Título: Palocci ganha mais tempo na CPI dos Bingos
Autor: Daniel Pereira
Fonte: Jornal do Brasil, 08/12/2005, País, p. A6

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, somente prestará esclarecimentos à CPI dos Bingos neste ano se quiser. Como já deixou claro que não quer, a tendência é que compareça ao Congresso para falar de denúncias apenas em 2006. Ele desconsiderou acordo firmado há duas semanas que previa a realização de seu depoimento até o próximo dia 10. Além disso, impediu a votação ontem de requerimento de convocação para depor, apresentado pelo presidente da comissão, senador Efraim Morais (PFL-PB). Palocci contou com o apoio de caciques da oposição. Líderes de PSDB e do PFL concordaram em adiar para o ano que vem o depoimento do ministro porque não querem ser acusados de algozes de Palocci ou de responsáveis por uma eventual desestabilização da economia. Além disso, pretendem deixar claro que, se o condutor da política econômica cair, será por obra do chamado fogo amigo.

- A gente estava trabalhando para não esticar a corda demais e conseguimos. Se o presidente Lula está insatisfeito com o ministro que o demita. Sou contra metermos a mão nessa cumbuca - disse um tucano influente.

Integrantes da CPI propuseram que ele compareça na comissão na próxima terça-feira, dia 13, mas como o requerimento de convocação não foi votado ontem, ele iria na condição de convidado.

Palocci telefonou anteontem para Efraim pedindo que o depoimento fosse adiado para 2006. Ele argumentou que já compareceu a três audiências no Congresso nas últimos duas semanas.

- O ministro desrespeitou o acordo e teve uma posição de intolerância - declarou o presidente da CPI. Ele promete votar o requerimento de convocação na próxima terça-feira, se o ministro não comparecer. Mas mesmo que seja aprovado, o depoimento ficará para 2006.

O presidente da CPI dos Bingos e o relator, senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), chegaram a divulgar a tese de que a votação do requerimento não foi realizada ontem porque o governo venceria. Mas o adiamento foi decidido pelos líderes de oposição, que pretendem dar tempo para Palocci lidar com o fogo amigo. Com o quorum completo e a substituição do senador Augusto Botelho (PDT/RR), que é contrário à convocação de Palocci, a oposição assegura ter condições de aprovar o requerimento e marcar o depoimento para 2006.

No depoimento, os parlamentares pretendem questionar o ministro sobre a denúncia de seu ex-assessor Rogério Buratti de que ele recebia propina mensal de R$ 50 mil quando era prefeito de Ribeirão Preto. Também pedirão explicações sobre um suposti esquema que teria injetado dólares de Cuba na campanha de Lula à Presidência.

Em depoimento ontem na CPI dos Bingos, Roberto Colnaghi, dono do avião que supostamente transportou os dólares de Cuba para o caixa dois do PT, afirmou que deu carona em sua aeronave por duas vezes para Palocci, Em uma delas, o ministro estaria acompanhado do ex-presidente do PT José Genoino.