Título: A juventude quer participar
Autor: Patrícia Lânes*
Fonte: Jornal do Brasil, 08/12/2005, Outras Opiniões, p. A11

Há potencial de participação entre os jovens brasileiros. Esta é uma das principais conclusões da pesquisa Juventude Brasileira e Democracia: participação, esferas e políticas públicas, coordenada nacionalmente pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) e Instituto Pólis (SP) e realizada por uma rede envolvendo nove instituições, entre universidades e ONGs, em sete Regiões Metropolitanas do país e no Distrito Federal. O levantamento buscou conhecer, a partir de constatações de sua primeira etapa (uma pesquisa de opinião junto a oito mil jovens entre 15 e 24 anos), o potencial participativo da juventude urbana através de uma nova metodologia chamada Grupos de Diálogo.

Cada um dos 39 Grupos de Diálogo realizados reuniu entre 10 e 40 jovens que debatiam a partir de informações recebidas sobre a situação da juventude brasileira e alternativas de participação. O processo, que reuniu ao todo 913 de oito mil jovens inicialmente pesquisados, revelou que o jovem metropolitano, apesar do descrédito nos políticos (já na primeira fase 64,7% disseram que estes não representam os interesses da população), acredita ser a política o caminho capaz de operar as mudanças estruturais esperadas por eles. E suas demandas são diversificadas: a ampliação do Ensino Médio, a contratação de mais professores melhor qualificados e remunerados, a ampliação do mercado de trabalho para os jovens e a descentralização de espaços de cultura e lazer, por exemplo.

A grande maioria dos entrevistados, 85,8%, disse se informar sobre o que acontece no mundo - contrariando, este e outros dados, a noção do senso-comum de que o jovem é alienado ou apático. As informações são acessadas sobretudo através da televisão (84,5%), de jornais e revistas (57,1%) e pelo rádio (49%).

Dos entrevistados, 42,7% disseram acessar a Internet. No entanto, esses dados e muitos outros da pesquisa revelam que as oportunidades de acesso a bens reais e simbólicos estão distribuídas desigualmente. Ou seja, em geral, são os jovens brancos, das classes A/B, com maior escolaridade, os que têm acesso a mais e melhores oportunidades.

É importante notar que 28% dos pesquisados participavam de algum grupo, em sua maioria (42,5%) religiosos, seguido dos esportivos (32,5%) e artísticos (26,9%). Esses jovens apontaram que preferem participar coletivamente, sobretudo para realizar atividades de cunho comunitário; na primeira fase da pesquisa, 89% concordaram totalmente com a frase ''as pessoas devem se juntar para defender seus interesses''.

A noção de que é necessário melhorar o país e a sociedade está bastante presente. A juventude identifica como os principais problemas do Brasil a violência, o desemprego, a educação, a desigualdade social, a saúde e o preconceito.

Os jovens também mostraram, nos Grupos de Diálogo, onde eram ouvidos e podiam falar e refletir sobre questões sociais em conjunto com jovens de diferentes idades, classes sociais e locais de moradia, a importância da divulgação e abertura de novos espaços de participação. 85% deles concordaram totalmente com a frase ''é preciso abrir canais de diálogo entre cidadãos e o governo'' e 65,6% disseram procurar se informar sobre política, mas sem tomar parte diretamente.

A escola aparece como espaço primeiro de experimentação de novas formas de participação mas deve ser combinada com a ampliação de acesso dos jovens a outros espaços públicos (centros culturais e de juventude, clubes artísticos e esportivos) onde eles tenham oportunidades diferenciadas de interferir em sua realidade, de apresentarem suas preocupações e demandas, de serem ouvidos por outros setores da sociedade, sobretudo o poder público, sendo reconhecidos como sujeitos de direitos.

*Pesquisadora do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase).