Valor Econômico, v. 20,
n. 4979, 11/04/2020. Brasil, p. A3
Metade do Nordeste está
apta ao auxílio
Bruno Villas Bôas
Dos cerca de 56 milhões de brasileiros que se enquadram nos critérios previstos
para receber o auxílio emergencial de R$ 600 do governo federal, 37,7% estão na
região Nordeste do país (metade da população adulta da região) e 61,6% têm até
o ensino fundamental completo.
Os números foram
levantados pela consultoria IDados a partir do cruzamento dos critérios
previstos para o benefícios com a base de dados da Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílio Contínua (Pnad Contínua), do IBGE, que acompanha
informações sobre a renda da população.
Entre os critérios para
receber o auxílio estão não ter emprego formal, não receber recurso
previdenciário ou assistencial (como o Benefício de Prestação Continuada, a
aposentadoria pelo INSS ou o seguro-desemprego) e ter mais de 18 anos. É
preciso ainda ter renda mensal de até meio salário mínimo per capita (R$
522,50) e de até três salários mínimos (R$ 3.135) por família.
Segundo Mariana Leite,
pesquisadora da consultoria IDados, 21,1 milhões dos brasileiros aptos ao
benefícios estão no Nordeste. Esse contingente representa metade (51,2%) da
população adulta da região (18 anos ou mais de idade). Uma proporção semelhante
é vista na região Norte: 50,4% da população estaria apta ao benefício.
As regiões são,
historicamente, as mais pobres do país, o que explica o número elevado de
pessoas enquadradas no auxílio emergencial, que terá duração de três meses.
Além da pobreza, as regiões têm elevado número de trabalhadores no mercado
informal.
“O mercado de trabalho
do Nordeste tem números piores de emprego, renda e foi bastante afetado
durante a recessão, com posterior dificuldade de recuperação”, explica Mariana.
“Três quartos dos moradores do Nordeste enquadram-se na faixa de renda exigida
para receber o auxílio do governo.”
Na região Sudeste, 19,8
milhões de pessoas estão aptas ao benefício, 29,1% dos moradores adultos
da região. Outros 5,4 milhões estão na região Sul, o que representa 23,7% da
população adulta local, a menor proporção do país. “O Sul exibe, em geral, melhores
índices de emprego, renda e formalização”, acrescentou a pesquisadora.
Como esperado num
programa com corte por renda, os menos escolarizados formam a maioria: 61%
dos possíveis beneficiários têm até o ensino fundamental completo, ou 34,5
milhões de pessoas.
“Em geral, o auxílio
elaborado pelo governo parece bem focado na população de baixa renda, que será
mais afetada no período de isolamento social”, afirmou a pesquisadora,
acrescentando que será preciso acompanhar sua operacionalização.
Na quinta-feira, a Caixa
Econômica Federal divulgou que, somente no primeiro dia, o benefício foi
creditado na conta poupança de 2,1 milhões de clientes do banco e que outros
436 mil benefícios seriam creditados pelo Banco do Brasil. No total, já teriam sido
disponibilizados cerca de R$ 1,5 bilhão apenas no primeiro dia.
Curiosamente, menos da
metade dos trabalhadores informais - alvo principal da medida do governo -
estará apta a receber o auxílio. Dos 44 milhões de trabalhadores informais
existentes no país, 26 milhões reuniriam os requisitos, especialmente por causa
do critério de renda.
“Existe uma questão:
como são informais, não há formas de comprovação de renda. Então, os
informais podem declarar renda menor ao governo e desta forma acessar o
benefícios. Isso pode aumentar o universo de beneficiados pelo auxílio como um
todo”, disse ela.
Mariana chama atenção
para a presença de 2,5 milhões de pessoas com ensino superior completo que
atendem aos critérios do programa. Esse grupo representa, porém, só 4,6%
do total de potenciais beneficiários. “Há muita gente inativa dentro desse total,
que nem trabalha e nem procura emprego. Há também muitos jovens desempregados”,
explica.
O levantamento mostra
que 44% dos brasileiros aptos ao benefícios estão na faixa de 18 a 34 anos de
idade. São 24 milhões de pessoas.
Parte da explicação está
nos menores salários e na maior informalidade da parcela jovem dos
trabalhadores, além da maior incidência de desemprego.
O grupo de idosos (65
anos ou mais) aptos a receber é pequeno, com 1,7 milhão de pessoas, o
correspondente a apenas 7,9% do grupo etária. Mariana explica que os
idosos mais pobres recebem recursos do BPC, programa de assistência social do
governo, fator de exclusão do auxílio emergencial.