Título: Exportadores pessimistas
Autor: Sandra Nascimento e Viviane Monteiro
Fonte: Jornal do Brasil, 08/12/2005, Economia & Negócios, p. A17

O industrial está hoje menos otimista do que estava há um ano. Pesquisa divulgada ontem pelo Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) mostra que, ao contrário de 2004, o número de otimistas desceu a ladeira. Naquele ano, 72% dos entrevistados declararam-se confiantes em relação ao desempenho dos negócios no ano seguinte. A parcela caiu para 49% neste ano. - É um resultado natural - disse o presidente do Ciesp, Claudio Vaz, considerando a percepção que o empresariado tem do atual cenário econômico brasileiro, agravada com a queda de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre do ano.

Segundo a pesquisa, os entrevistados apontaram como os maiores riscos para 2006 a manutenção da taxa de câmbio no atual patamar e a falta de demanda, empatados por 29% dos entrevistados.

- Quando a economia está mais equilibrada, a preocupação principal é com questões estruturais, como a carga tributária e, neste momento, as conjunturais estão na primeira linha.

Para as empresas que pretendem exportar em 2006, cerca de um terço (35%) reconhece que terão prejuízo de 10% caso o dólar se mantenha no patamar entre R$ 2,20 e R$ 2,40.

Houve surpresa, na avaliação do presidente do Ciesp, em relação à preocupação com a demanda empatada e com o câmbio.

- Há três anos não se falava nisso - disse ele, acrescentando que, embora a renda das famílias esteja crescendo, boa parte já está comprometida com dívidas, a exemplo do crédito consignado.

Além dos motivos que classificou como ''óbvios'' - juros elevados e o câmbio defasado -, ele acrescentou outros ao rol de preocupações da indústria: a frustração com falta de acordos comerciais na Organização Mundial do Comércio, a persistência da crise política e, mais recentemente, as divergências dentro do próprio governo federal quanto à condução da política econômica.

- Tudo isso é ingrediente de intranquilidade - disse.

Vaz, no entanto, faz questão de ressaltar que a pesquisa mostra que ''houve uma reversão de expectativas, mas o tom é de um otimismo cauteloso, ninguém está esperando que 2006 seja um ano de recessão''.

A percepção, por parte do empresariado, da persistência da taxa de juro real elevada e do câmbio defasado é, na avaliação de Vaz, um dos motivos da cautela dos entrevistados.

- O próximo ano reúne todos os elementos para garantir uma boa recuperação, inflação baixa, não há sinais de crise externa mas, mantida a atual política econômica isso será muito difícil - disse, acrescentando que ''não estamos pedindo mudanças no rumo da política econômica, mas um ajuste de dosagem'', com queda da Selic e TJLP.