Valor Econômico, v. 20,
n. 4979, 11/04/2020. Brasil, p. A3
Benefício pode mais que
compensar queda da massa salarial
Bruno Villas Bôas
Cálculos do Instituto Brasileiro de Economia da
Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) mostram que as medidas de proteção ao
trabalhador anunciadas pelo governo federal podem mais do que compensar as
potenciais perdas de massa salarial do trabalho durante o pior momento dos
efeitos do novo coronavírus.
Sem a política de
proteção do governo federal, a população ocupada no país (empregados,
trabalhadores por conta própria, empregadores) tenderia a mostrar uma redução
de 4,9% no segundo trimestre deste ano, em relação ao mesmo período do ano
passado, enquanto o rendimento médio real teria leve alta de 0,5%. O total de
desempregados chegaria a 17 milhões.
Dessa forma, Daniel
Duque, pesquisador do Ibre/FGV, calcula que a massa de rendimento do trabalho
(soma dos salários de todos os trabalhadores) cairia de R$ 632 bilhões no
segundo trimestre de 2019 para R$ 604,2 bilhões no segundo trimestre de 2020
por causa dos efeitos do novo coronavírus, o correspondente a R$ 27,8 bilhões a
menos.
“A questão é que o gasto
esperado do auxílio emergencial do governo federal é da ordem de R$ 100
bilhões, o que representa 15% da massa de rendimentos do trabalho do segundo
trimestre do ano passado. Ou seja, mais do que compensa essas perdas potenciais
estimadas”, acrescenta Duque.
Somente na quinta-feira,
primeiro dia de pagamento do auxílio emergencial, o governo liberou cerca de R$
1,5 bilhão para os inscritos, segundo a Caixa Econômica Federal. Foram 2,5
milhões de cidadãos beneficiados pela medida por meio de contas da Caixa e do
Banco do Brasil.
Duque lembra que, além
do auxílio emergencial de R$ 600, a serem pagos por um período de três
meses, o governo federal também autorizou saques do FGTS a partir de junho, o
que poderia elevar a massa salarial ampliada em pelo menos mais 4%, considerando
a hipótese de um saque médio de R$ 500 dos trabalhadores formais.
O desafios nos cálculos
do Ibre/FGV continua sendo entender como o programa de proteção ao emprego
lançado pelo governo vai influenciar o mercado de trabalho nos próximos meses.
Entre as medidas está a redução da jornada de trabalho e do salário dos
trabalhadores em 25%, 50% ou 70%.
A LCA Consultores também
calculou os possíveis impactos das medidas de isolamento social sobre a
massa salarial do país. Considerando o cenário básico da consultoria, de queda
de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2020, a massa de rendimentos do trabalho
deve recuar para R$ 211,691 bi em junho, 2,7% abaixo de fevereiro (R$ 217,563
bilhões).
“Deve haver uma retração
tanto da massa de renda quanto do rendimento médio dos trabalhadores, como
autônomo, conta própria e informal”, disse Cosmo Donato, economista da LCA e
autor dos cálculos. “O trabalhador com CLT deve ser mais protegido e manter renda
num primeiro momento.”