Correio Braziliense, n. 21876, 07/02/2023. Economia, p. 7

Lula reforça carga contra o Banco Central

Ingrid Soares
Rafaela Gonçalves


Em uma nova rodada de ataques ao Banco Central, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a criticar o patamar da Selic, taxa básica de juros da economia, e o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC. Segundo o chefe do Executivo, não há razões para a taxa de juros estar em 13,5%. No entanto, o petista errou ao citar o número, que está em 13,75% ao ano desde 3 de agosto.

“Não existe nenhuma justificativa para a taxa de juros a 13,5%, é só ler a carta do Copom para ver a vergonha que é esse aumento de juros e a explicação que deram para a sociedade brasileira”, discursou Lula, durante a posse de Aloizio Mercadante na presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no Rio de Janeiro.  

O presidente ainda afirmou que os empresários “precisam aprender a reivindicar, a reclamar dos juros altos”. “Quando o Banco Central era dependente de mim, todo mundo reclamava. O único dia em que a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo)  falava era quando aumentava os juros. Era o único dia”, reclamou. “Agora, eles não falam.”

Lula disse também que o país tem “cultura” de juros altos. “O problema não é a independência do Banco Central, é que este país tem uma cultura de viver com o juro alto que não combina com a necessidade de crescimento que temos”, completou o presidente, que, recentemente, já havia feito críticas à autonomia da autoridade monetária, prevista em lei aprovada pelo Congresso e sancionada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em 2021.

As críticas de Lula ao BC têm se intensificado. Na semana passada, o presidente disse, em entrevista à Rede TV!, que pode buscar a revisão da autonomia do BC quando terminar, no fim de 2024, o mandato do atual presidente da instituição, Roberto Campos Neto, a quem chamou de “esse cidadão”. “Quero saber do que serviu a independência do Banco Central. Eu vou esperar esse cidadão (Campos Neto) terminar o mandato dele para fazermos uma avaliação do que significou o Banco Central independente”, disse Lula.

 As declarações de Lula tem sido mal recebidas no mercado financeiro. De acordo com analistas, a retórica ofensiva contra a autoridade monetária tem efeito reverso, e só aumenta ainda mais as expectativas de inflação e juros. “Esse tipo de discurso é muito perigoso, afeta as expectativas do mercado, sinalizando que pode haver mudança na independência do Banco Central. Isso acaba gerando efeito contrário ao pretendido e elevando os juros”, observou Davi Lelis, economista e sócio da Valor Investimentos.  

De acordo com o economista Denis Medina, da Faculdade do Comércio de São Paulo, “Lula parece não ter entendido que a política de juros altos é momentânea e importante para reduzir o nível da inflação”. “Ele cutucou a Fiesp, mas o mercado não reclamou, justamente por entender que isso é melhor do que uma inflação fora de controle”, avaliou.

Em Brasília, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, adotou um tom mais conciliador que o do presidente ao comentar a questão dos juros. Segundo ele, o BC “poderia ter sido mais generoso” com o governo no comunicado do Copom que apontou “incertezas fiscais” para explicar a decisão adotada na semana passada de manter a Selic em 13,75% ao ano.  

“Nós não vamos, em 30 dias de governo, resolver um passivo de R$ 300 bilhões herdado do governo anterior. Nosso compromisso é com o equilíbrio das contas, e anunciei, em 2 de janeiro,  que vamos perseguir resultados melhores. Creio que a nota do Banco Central faz mais referência ao legado do governo anterior do que às providências que estão sendo tomadas por esse governo.”