Valor Econômico, v. 20, n. 4979, 11/04/2020. Internacional, p. A9

Banco Mundial prevê contração do PIB de 5% no Brasil e 4,6% na AL

Marli Olmos


O Banco Mundial previu ontem uma queda do Produto Interno Bruto (PIB) de 5% no Brasil e de 4,6% na região da América Latina e Caribe como efeito da crise provocada pela covid-19. Uma situação complicada na região, que já enfrentava convulsões sociais, déficits fiscais em vários países e a informalidade de grande parte da mão de obra agravou-se com a pandemia. A contração poderá ser ainda mais profunda, a depender da evolução da disseminação da doença. Mas, por outro lado, a instituição prevê a recuperação do crescimento econômico em praticamente toda a região em 2021.

No relatório, “A economia nos tempos da covid-19”, apresentado ontem pelo Banco Mundial, a retração da atividade econômica brasileira prevista para 2020 só perde para México e Equador, ambos com queda estimada em 6,0%, e fica muito próxima da Argentina, com previsão de contração de 5,2%. Já em 2021, haveria uma expansão de 2,6% na América Latina e de 1,5% na economia brasileira, segundo o relatório.

A queda da demanda na China e países do G7 afetará, principalmente, segundo a instituição, as exportações de commodities da América do Sul e de bens manufaturados e serviços da América Central. O Caribe sofrerá, ainda, os efeitos do colapso no turismo.

O relatório foi apresentado à imprensa da região ontem, por videoconferência, pelo economista-chefe do Banco Mundial para a América Latina e Caribe, Martin Rama. Ele lembrou que o déficit nas contas públicas em vários países limita as medidas de socorro, que poderiam vir, por exemplo, na forma de postergação da cobrança de impostos.. Daí a necessidade, destacou, de governantes definirem políticas públicas “transparentes e claras”.

Como a população mais carente não dispõe de recursos para suportar bloqueios e longas quarentenas, necessários para conter a propagação do novo coronavírus, aos governos caberá, defende o Banco Mundial, ampliar e estender programas de assistência social. Para a instituição, cabe aos governos assumir o papel de “garantidores” no socorro financeiro.

A informalidade do trabalho em grandes proporções e o fato de que muitas famílias vivem com o dinheiro que entra no dia representam uma grande desvantagem da região em relação às nações desenvolvidas. Trata-se de um obstáculo para que os sistemas de proteção social atinjam todas as famílias.

No caso das grandes empresas, a instituição aconselha os governos a injetar recursos mediante um compromisso de manutenção dos empregos. Nas pequenas e médias, empréstimos bancários precisam incluir garantias dos governos.

Para Rama, todo esse conjunto de ações exige políticas coerentes e direcionadas em uma escala “raramente vista antes”. “Por isso, pensar no que fazer nas próximas semanas será tão importante quanto ter os recursos”, destacou o economista.

Por outro lado, o relatório do Banco Mundial aponta o fato de a América Latina e Caribe levarem vantagem por terem sido atingidos pela epidemia depois de os países desenvolvidos. As primeiras mortes na região ocorreram, dois meses depois dos primeiros casos registrados em todas as economias do G7. Esse intervalo de tempo oferece, afirma a instituição, uma oportunidade para ajustar a resposta política.

Com base em dados diários de 25 países, o relatório mostra que, em geral, as medidas de contenção sempre resultam em menos casos da covid-19 ao longo do tempo. Para a instituição, “a maioria dos governos da América Latina optou sensatamente por seguir na direção de salvar vidas a qualquer custo”.

Rama lamentou que a pandemia pegou a América Latina num momento em que a maioria dos países se preparava para crescer. “Tínhamos a vontade de alcançar o desenvolvimento e diminuir a desigualdade, mas agora temos uma emergência e temos que apagar um incêndio”, disse. Por outro lado, para ele, as decisões de hoje definirão o futuro. “A forma

Rama lamentou que a pandemia pegou a América Latina num momento em que a maioria dos países se preparava para crescer. “Tínhamos a vontade de alcançar o desenvolvimento e diminuir a desigualdade, mas agora temos uma emergência e temos que apagar um incêndio”, disse. Por outro lado, para ele, as decisões de hoje definirão o futuro. “A forma de cada país responder agora facilitará ou não a retomada”.