Título: Estudantes jogam ovos e tomates em Lula
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 16/11/2004, País, p. A-4
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva discutiu ontem com um grupo de estudantes que o vaiaram e arremessaram ovos e um tomate em direção ao palanque oficial, durante a festa comemorativa dos 115 anos da Proclamação da República, em Maceió. O grupo, formado por cerca de 30 alunos da Universidade Federal de Alagoas, agitou faixas de protesto contra a reforma universitária e chamou Lula de ''traidor'' durante todo o discurso. Aparentando calma, o presidente respondeu de improviso. Chamou os manifestantes de ''meninos'' e disse que o protesto comprovava que ''a democracia no Brasil veio para ficar''. A manifestação começou quando o locutor anunciou que Lula iria discursar. Vaias se misturaram aos aplausos, surpreendendo a comitiva e a segurança. No momento em que presidente se dirigia ao microfone, dois ovos e um tomate foram lançados em direção ao palanque. Um ovo atingiu a base da estrutura, na altura onde estava sentado o chefe da Casa Civil, José Dirceu. O outro ovo e o tomate explodiram no meio da rua.
Cerca de 25 policiais militares, seguranças da Presidência e do evento, cercaram os manifestantes, postados do outro lado da avenida. Portando faixas com frases como ''não à reforma privatista do governo'' e ''universidade pública, ensino de qualidade'', os estudantes juntaram as vaias aos gritos de ''abaixo a repressão''.
Os seguranças e policiais não intervieram, evitando o confronto. Mas o barulho incomodou Lula, que chegou a interromper por um instante sua fala. Sua resposta, entretanto, só veio no fim, em forma de improviso.
- O Brasil avançou tanto, a democracia avançou tanto, que até os nossos companheiros conquistaram o direito de vir protestar - disse o presidente, olhando para os manifestantes.
Foi aplaudido pelo público que lotou as arquibancadas, montadas na Avenida da Paz. Mas novas vaias e gritos foram dirigidos a Lula. Voltando-se então para o governador de Alagoas, o presidente continuou:
- Viu, Ronaldo Lessa, acho isso de um significado extraordinário. Demonstra que a democracia no Brasil veio para ficar.
Mais aplausos e vaias.
- Como eu gritei a vida inteira em todos os palcos do mundo, nunca vou achar ruim que as pessoas gritem. Mas, muitas vezes, as pessoas gritam até sem saber por que estão gritando.
Os gritos dos estudantes continuaram. E Lula também continuou:
- Se esses meninos que estão gritando aí, se fossem representantes da oligarquia, poderiam me chamar de qualquer coisa. Se eles fossem trabalhadores, iriam reconhecer que nunca na história do Brasil os trabalhadores chegaram a tão alto patamar de participação política, e nunca participaram tanto das decisões - declarou, encerrando a discussão.
O presidente recebeu em Maceió a Medalha do Mérito da República Marechal Deodoro, outorgada pelo governo estadual.