Título: Lula: oposição faz golpismo
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Fonte: Jornal do Brasil, 10/12/2005, País, p. A3
Presidente comprara atuação de adversários à da instituição que orquestrou golpe contra Hugo Chávez na Venezu
MONTEVIDÉU - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que seus adversários estão tentando fazer ''golpismo'' contra ele, a exemplo da ação que resultou na queda momentânea de Hugo Chávez na Venezuela, em 2002. Ao deixar a 29ª Cúpula do Mercosul, em Montevidéu, que incorporou a Venezuela ao bloco, Lula disse que seus adversários dizem que ele age como o presidente Hugo Chávez, mas que, na realidade, são eles que se comportam como a Fedecámara, a instituição de empresários que orquestrou o golpe contra Chávez em 2002.
A comparação foi motivada por uma entrevista concedida pelo presidente à revista Carta Capital, que começou a circular ontem.
- Fico pensando que um dia a história vai julgar o que aconteceu em 2005. Como sou defensor da liberdade de imprensa, concluo: ''Juiz será o leitor''. Um dia levantaram: ''Ah, o Lula está indo para a rua porque quer imitar o Chávez''. O Chávez é o Chávez e eu sou eu. Agora, eles estão agindo no Brasil como a Fedecámaras agiu na Venezuela, sem respeitar o jogo da democracia. Você pode não gostar do Chávez por 'n' motivos, agora, o cidadão faz uma eleição, faz uma Constituição, faz um referendo, ganha o referendo, faz outro referendo, e ainda sssim acham que não é democrata? - disse Lula à revista.
Depois de conversar sobre a entrada da Venezuela no Mercosul, Lula respondeu a uma pergunta sobre a comparação feita à Carta Capital.
- Tem alguns que ficam dizendo que eu, quando vou fazer um ato público, ajo como se fosse o Chávez. Não estou agindo como o Chávez. Agora, os meus adversários estão agindo como agiu a Fedecámara contra o Chávez, tentando fazer golpismo - afirmou.
A Fedecámara é a união nacional das indústrias venezuelanas, equivalente à Confederação Nacional da Indústria (CNI) no Brasil. Em 2002, o então presidente da instituição Pedro Carmona Escanga organizou uma greve geral no país que culminou em um golpe contra o governo de Chávez com a colaboração dos generais da Força Armada Nacional.
Chávez foi enviado a uma ilha no Caribe, onde foi preso, e seria enviado para fora do continente por seus opositores. Mas o golpe durou apenas 48 horas. A população saiu às ruas para protestar e militares de baixa patente desobedeceram as ordens de seus superiores. Um helicóptero resgatou Chávez da prisão na ilha e o presidente venezuelano voltou ao poder. Carmona está exilado na Colômbia.
As declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foram recebidas com ataques pela oposição, cujos líderes chamaram Lula de ''demagogo'', ''irresponsável'' e ''incompetente'', entre outras críticas.
- Tenho pena de nós, brasileiros, que teremos de aturar por mais um ano essa lenga-lenga do irresponsável presidente, o mais incompetente da nossa história - disse o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC).
Já o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), considerou ''patéticas'' as opiniões do presidente e disse que ele atrapalha a articulação de seu governo ao atacar a oposição.
- É patético. Ele está em campanha para desgraçar o restante de sua biografia e de seu governo - afirmou.
De acordo com o líder do PSDB, o presidente Lula ainda não teria se dado conta de que ele é a elite agora.
- Ele não sabe o que é elite. A elite econômica do Brasil é ele, é o Delúbio Soares, é o Silvinho Pereira, que tem uma Land Rover - disse o senador. Ele se referia ao carro que o então secretário-geral do PT ganhou de uma empresa que presta serviço à Petrobras.
A entrevista de Lula provocou reparos até mesmo dentro da base aliada. O líder do PSB na Câmara, Renato Casagrande (ES), disse que há ''exagero'' na comparação feita por Lula entre a oposição brasileira e a venezuelana.
- Essa declaração me surpreendeu, até porque dois dias atrás eu vi Lula dizendo que o governo não devia temer a oposição - disse.
Com agências