O Globo, n. 32478, 09/07/2022. Política, p. 8
Senador diz que ganhou verba por “gratidão” e depois recua
O senador Marcos do Val (Podemos-ES) afirmou em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo que recebeu R$ 50 milhões em emendas do chamado orçamento secreto como sinal de “gratidão” por ter apoiado a eleição do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), em 2021. Depois que a entrevista foi divulgada, Do Val disse ter sido mal interpretado. Ele declarou que não houve negociação de emendas em troca de votos para Pacheco. As explicações foram dadas em duas notas à imprensa. Em uma delas, o senador disse que, ao usar a palavra “gratidão” na entrevista, quis se referir à possibilidade de assumir a presidência da Comissão de Transparência do Senado, e não ao recebimento de emendas.
A assessoria de imprensa do presidente do Senado afirmou que ele não vai comentar a entrevista Ao Estadão, Do Val disse ter sido informado pelo senador Davi Alcolumbre (União-AP) de que, como demonstração de gratidão de Pacheco, receberia R$ 50 milhões em emendas, mesmo valor que o destinado a líderes partidários. O senador amapaense não comentou. Segundo o relato de Do Val ao jornal, a porcentagem da divisão de emendas havia sido definida por Pacheco em reunião com parlamentares. “Eu não sei qual é a conversa que ele (Pacheco) teve em valores com os outros. Para mim, quem me ligou dizendo foi até o Davi, não foi nem o Rodrigo. E aí (foi) com o Davi que eu perguntei. Eu achei até muito para eu encaminhar para o estado (Espírito Santo), mas como (é) questão de saúde, eu não vou negar. Eu perguntei:
‘Mas teve algum critério?’ Ele só falou: ‘Aquele critério que o Rodrigo falou para vocês lá no início’. ‘Ah, tá, entendi.’ Mas ele falou: ‘Só que o Rodrigo te colocou no critério como se você fosse um líder, pela gratidão de você ter ajudado a campanha dele a presidente do Senado’. Eu falei: ‘Poxa, obrigado, não vou negar e vou indicar ’”, relatou Do Val ao O Estado de S. Paulo. Em nota, senadores do partido de Do Val, o Podemos, declararam ser contrários ao recebimento de recursos por meio do orçamento secreto. O documento é assinado pelos outros oito senadores da bancada .
“Não compactuamos com essa forma dese fazer política. Entendemos que as emendas individuais e de bancada são suficientes. Sempre defendemos o fim das emendas RP-9 (as do chamado orçamento secreto )”, diz a nota. Na entrevista, o senador ressaltou que nunca houve proposta de apoio a Pacheco em troca de emendas.
“O critério que ele colocou para mim foi o critério de eu ter apoiado ele enquanto outros não apoiavam. Mas ele não prometeu. Em nome da minha filha — eu tenho uma, tem 16 anos —, em nome dela, eu te digo: em momento algum ele me prometeu um real, tipo assim: ‘Me apoie que eu te dou um real’. Ou :‘ Me apoie que eu te dou a presidência de uma comissão’. Nada, nada”. (Do g1)