Correio Braziliense, n. 21878, 09/02/2023. Política, p. 4
Abraço em repúdio ao vandalismo
Ândrea Malcher
Parlamentares e funcionários do Legislativo deram, ontem, um abraço Congresso, como forma de marcar os 30 dias do ataque dos terroristas bolsonaristas, que em 8 de janeiro vandalizaram as sedes dos Três Poderes. A manifestação O caminho inverso: Ato pela Democracia”, organizado pelo Sindicato dos Servidores do Poder Legislativo Federal e do Tribunal de Contas da União (Sindilegis), foi marcado por críticas ao golpismo e reforçou a defesa do Estado Democrático de Direito.
O diretor da Polícia Legislativa do Senado, Giovani Viana, e o diretor da Polícia Legislativa da Câmara, Adilson da Paz — cujos agentes estiveram na linha de frente na contenção das hordas que invadiram o Congresso para promoverem depredações e saques —, salientaram que apesar do ataque, as instituições estão mais fortes. “O que mais me orgulha do dia 8 é a bravura dos meus companheiros. Homens e mulheres que não sabiam se voltariam para casa. Agradeço por esse momento de estar, não comemorando a invasão, mas a democracia. Unidos somos mais fortes”, disse Adilson.
Segundo a deputada Maria do Rosário (PT-RS), “não há patriotismo sem Constituição”. “Neste abraço simbólico que oferecemos aqui, queremos dizer que nunca mais ousem agir, com a sede golpista, contra a Constituição e a democracia aqueles que não têm apreço pelas instituições, pela liberdade e pelos direitos humanos”, exortou.
Comissão
Em paralelo ao abraço no Congresso, a senadora Soraya Tronicke (União Brasil-MS) voltou a defender, ontem, a necessidade de se instalar uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) para auxiliar na apuração dos ataques terroristas. “Fiz o requerimento para abertura. Hoje, temos 37 assinaturas, dez a mais do que o necessário. São Três Poderes que podem investigar. Temos atos do Judiciário, do Executivo e o Legislativo não pode ficar de fora”, afirmou.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, porém, já se manifestou contrariamente à CPI porque, segundo alguns dos seus interlocutores, serviria para dar palco a quem não tem compromisso com a democracia — e que apenas usaria a comissão para atacar o governo. Além disso, a exemplo da CPI da Covid, o colegiado voltaria a ser um campo de embate entre o negacionismo bolsonarista e os governistas.
Soraya, porém, acredita ser possível obter imparcialidade na comissão. “Teremos que levar a CPI com responsabilidade, mas não podemos nos furtar desse compromisso”, salientou, acreditando que pode obter apoio da bancada do governo tanto para a instauração quanto para os trabalhos da comissão. (Com HL)