Título: Ano novo, televisão nova
Autor: Marcela Canavarro
Fonte: Jornal do Brasil, 10/12/2005, Economia & Negócios, p. A17

BNDES vai emprestar R$ 30 milhões para colocar TV digital no ar, definitivamente, no dia 7 de setembro de 20

SÃO PAULO - O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vai oferecer uma linha de crédito para projetos ligados ao Sistema Brasileiro de Televisão Digital. Os recursos serão da ordem de R$ 30 milhões, conforme anunciou ontem o ministro das Comunicações Hélio Costa. No anúncio, o ministro informou que as seis principais redes televisivas do país estão em negociação para firmar um acordo conjunto para iniciar as transmissões comerciais digitais no dia 7 de setembro de 2006, em São Paulo. Uma prévia do serviço será exibida nos meses de junho e julho, durante as partidas da Copa do Mundo de 2006. Mas a programação completa digital só deverá chegar às telinhas em setembro. Estão envolvidas na negociação Rede Globo, Bandeirantes, SBT, Record, TV Cultura e Rede TV.

- Essas seis emissoras farão um esforço muito grande para colocar sua programação comercial no padrão digital. Não é uma promessa ou um compromisso, mas um esforço. Elas já têm condições de fazer essa transmissão em nível comercial - afirmou o ministro.

O anúncio foi feito na primeira demonstração pública dos resultados dos estudos da TV digital, ontem na USP. Estavam presentes no evento dez dos 22 consórcios formados pelas principais universidades brasileiras e pelas empresas envolvidas no desenvolvimento do projeto. De acordo com Costa, o financiamento do BNDES aguarda apenas a apresentação de projetos.

- Temos R$ 30 milhões para usar e aguardamos projetos consistentes e de retorno assegurado.

Cada consórcio acadêmico elaborou um relatório com as condições para a adoção de cada padrão digital que existe no mundo: o americano, o europeu e o japonês. A escolha ficará a cargo do Ministério das Comunicações. Entre boa parte dos acadêmicos envolvidos no projeto, o padrão japonês é preferência. O próprio ministro já se mostrou favorável a este padrão.

Terminada a primeira fase dos estudos técnicos, o que deve determinar a escolha brasileira é a oferta de cada um dos concorrentes.

- Agora, eles estão vendo que nós temos um sistema e cada um oferece suas vantagens. Os japoneses ofereceram gratuidade de royalties, os europeus, R$ 5 milhões para a indústria brasileira e uma linha de crédito de 400 milhões de euros e, com os americanos, teremos uma reunião na semana que vem para saber qual será sua oferta - afirmou o ministro.

Para Costa, tal quadro mostra que dinheiro não é problema para a TV digital e que a escolha do padrão deve atender aos interesses nacionais, como inclusão digital e estímulo a uma política industrial de software, hardware e conteúdo. Segundo ele, estão previstos para chegar ao mercado pelo menos 10 mil set up boxes - caixa conversora que permitirá a recepção digital por aparelhos de televisores analógicos - até junho do ano que vem, quando haverá a transmissão digital da Copa do Mundo. Além disso, a digitalização das emissoras vai exigir a aquisição de 20 mil transmissores.

- Imagina o que isso significa para a indústria nacional - enfatizou.

O enfoque na indústria brasileira pretende ir muito além do mercado nacional. A expectativa é que os estudos em andamento resultem em 40 a 50 novas patentes em TV digital, que podem gerar royalties para o Brasil com a exportação da tecnologia. Isto deve aumentar a participação do país no mercado de software, atualmente na 15ª posição no mundo.

Para que os resultados saiam do papel, a verba para a TV digital vai saltar dos atuais R$ 14 milhões para R$ 52 milhões na segunda quinzena de janeiro. Esta semana, Costa anunciou também a possibilidade de que R$ 650 milhões em recursos do Fust e R$ 200 milhões do Funtel financiem o desenvolvimento tecnológico da TV digital.