Correio Braziliense, n. 21879, 10/02/2023. Política, p. 2
Busca por ações conjuntas de combate ao racismo
Victor Correia
Uma das integrantes da comitiva do presidente Lula, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, vai articular nos Estados Unidos a retomada de ações bilaterais de combate ao racismo. O objetivo principal da titular da pasta é revisitar a implementação do acordo Japer (sigla em inglês de Ação Conjunta para Eliminação da Discriminação Étnico-Racial), firmado em 2008.
“Embarco para os EUA, ao lado do presidente Lula, numa agenda de trabalho em defesa da democracia na região e para a retomada do acordo entre os países para enfrentamento ao racismo e fortalecimento da população negra, o Japer”, declarou Anielle. “Vai ser um momento importante para reposicionar o Brasil como liderança global de combate ao racismo”, acrescentou.
Na agenda de Anielle está prevista uma reunião com a representante especial de Estado para Justiça e Igualdade Racial do Departamento de Estado dos EUA, Desirée Cormier Smith, além do encontro na Casa Branca com Biden.
Acervo
A ministra também deve visitar o Museu Nacional da História e Cultura Afro-americana, em Washington. Segundo o site oficial do museu, o acervo é de 3.500 artefatos em exposição e 35 mil na coleção, representando momentos históricos da população negra no país, como a escravidão e o Movimento dos Direitos Civis.
A retomada do Japer foi uma demanda defendida por 10 organizações do movimento negro brasileiro em carta conjunta enviada tanto a Lula quanto a Biden. O texto, compilado pelo Washington Brasil Office (WBO), defende uma “retomada inclusiva” das ações conjuntas.
“O Brasil e os Estados Unidos passaram por drásticas transformações desde que o Japer foi assinado, 15 anos atrás. Apesar de ambos os países terem atingido importantes resultados na luta contra o racismo, estamos longe de chegar ao dia em que a discriminação racial não mais será um tema de grande preocupação”, escrevem as entidades. “Nesse sentido, o Japer é um importante mecanismo para promover cooperação entre os dois países na luta contra o racismo e a discriminação racial”, completam.
Segundo os representantes do movimento negro, o impacto do Japer no combate ao racismo foi limitado pela falta de interesse de “administrações passadas” em implementar as ações, ausência de uma estratégia objetiva e sub-representação das organizações da sociedade civil na criação do plano.