Título: Inflação supera meta de 2005
Autor: Sabrina Lorenzi
Fonte: Jornal do Brasil, 10/12/2005, Economia & Negócios, p. A19

IPCA desacelera em novembro, mas atinge 5,31% no ano e ultrapassa alvo estipulado pelo governo

Somente um milagre pode fazer o Banco Central acertar o centro meta de inflação de 2005. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) atingiu 0,55% em novembro, o suficiente para a taxa do ano superar os 5,1% perseguidos pelo governo. No ano, o IPCA acumula alta de 5,31%. Portanto, apenas uma deflação de 0,20% em dezembro permitiria o cumprimento do alvo, hipótese que Eulina Nunes, gerente de Preços do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), descarta.

- Não existe motivo nenhum para cogitar uma deflação em dezembro. Não há pressões fortes, mas a tendência é de aumento de preços de alimentos e de alguns administrados - afirma Eulina.

Ela mostra, entretanto, que a taxa dos últimos 12 meses converge cada vez mais para a meta. O acumulado no último ano ficou em 6,22%, abaixo dos 6,36% encerrados em outubro.

O BC conta com uma tolerância de 2,5 pontos percentuais para mais ou para menos. Mas, na hora de definir os juros, o governo mira no centro da meta de inflação.

As chuvas abundantes encareceram os alimentos em novembro. O período de entressafra de vários produtos deve manter a tendência de alta de preços. O IPCA em dezembro também terá impacto de reajustes de ônibus em Belo Horizonte e Recife, além das contas de água e esgoto em Fortaleza, que já estão mais caras. Sem falar dos aumentos de planos de saúde, em contratos que fazem aniversário em dezembro.

A inflação desacelerou em novembro - em outubro registrou 0,75% -, mas a queda foi menor do que esperava o mercado. Analistas projetavam que o IPCA ficasse em 0,42%.

A inflação dos alimentos saltou de 0,27% para 0,88% de um mês para o outro. Mas o principal reajuste partiu da energia elétrica, com 1,30% (contra 0,51% em outubro).

''A alta decorreu, principalmente, de aumentos nas contas das regiões metropolitanas do Rio de Janeiro (5,15%), Fortaleza (3,37%) e Porto Alegre (2,17%)'', destaca o IBGE na Pesquisa de Preços.

Por outro lado, a inflação das despesas com transportes recuou para menos de um terço de outubro para novembro com a trégua das cotações do petróleo. A taxa passou de 2,21% para 0,66% no período. O maior alívio partiu da gasolina, com desaceleração de 4,17% em setembro para 3,36% em outubro e por fim 0,83% em novembro. Mas não foi apenas o combustível que reduziu a pressão de gastos com transportes.

O álcool, que em outubro havia subido 10,48%, teve crescimento de preços mais moderado: 2,52%. As passagens aéreas acompanharam a trajetória de queda do petróleo, com desaceleração de 11,06% para 5,04% na variação de preços. Ônibus urbanos tiveram freio no aumento de passagens de 1,10% para 0,64%. Goiânia (9,09%), Recife (5,33%) e Salvador (1,80%) aumentaram preços do transporte urbano. Em Goiânia, o reajuste foi de 20% a partir de 12 de outubro; em Recife, de 10% em 11 de novembro; e em Salvador, de 13,3% a partir de 1º de outubro.