Título: Falta um ministro carioca no TST
Autor: Laudelino Mendes Neto
Fonte: Jornal do Brasil, 16/11/2004, Opinião, p. A-11

O TST reúne-se por estes dias para a indicação de seu próximo ministro e, desta vez, o mais votado foi um juiz de carreira do Rio de Janeiro.

Aparamentados, dezesseis cardeais votaram a lista tríplice que será encaminhada para o presidente da República, para sua escolha e nomeação.

O Tribunal Superior do Trabalho é a última instância trabalhista e é composto, ao todo, por dezessete ministros: onze escolhidos entre os juizes dos Tribunais Regionais, integrantes da carreira da magistratura; três dentre advogados e três dentre membros do Ministério Público do Trabalho.

Quem já passou por este processo sabe que ele está mais para calvário do que para a escolha de Sumo Pontífice. Não é difícil imaginar a dificuldade para um candidato, intelectual por excelência, pedir votos para si ou costurar interesses políticos que possam resultar na escolha de seu nome, quando não existe, nem pode existir, moeda de troca.

Juízes e representantes do Ministério Público não são vocacionados para a política, logo, não transitam bem entre eles. É uma eleição com direito a pedir votos, cartas de apoio. No entanto, sua natureza é, sobretudo, cívica.

É a difícil conjugação da personalidade recatada, tímida e acadêmica de um candidato, cuja carreira seminarista exige a nobreza do celibato, com a habilidade e desenvoltura próprios de um político capaz de articular junto ao Congresso, à Casa Civil e à Presidência da República. Isto significa que esta articulação deve ser feita por pessoas que possam coadjuvar nesse processo.

Muito embora o apoio político vá se somando ao candidato por uma sinergia, na medida em que seu nome vai se fortalecendo, o fato é que as entidades civis, político-partidárias e relacionadas aos Poderes (aí incluindo a imprensa) devem interagir, de modo a sensibilizar o Executivo na escolha de um dos três nomes da lista.

Ser o primeiro nome da lista tríplice tem significado. Aquele que encabeça a lista é o da preferência do cardinalato, mas o presidente da República não está adstrito a esta orientação, ficando livre para nomear qualquer dos candidatos indicados.

A eleição é sem holofotes. O candidato precisa do apoio de seu Estado de origem e, neste particular, o Rio de Janeiro não tem se empenhado quando um de seus filhos integra a lista do TST a ser encaminhada ao presidente.

Falta aquela coisa mineira da união em torno de uma mesa de quitutes; aquela conspiração - natural dos paulistas - na fumaça densa dos charutos e aquele toque delicado das rendeiras.

Nada justifica nosso Estado não ter representante no TST há cerca de 15 anos, daí a necessidade deste manifesto. O candidato do Rio, Aluisio Veiga, pela segunda vez é o mais votado na Corte, o que sinaliza não só sua capacitação, como também o desejo dos demais membros daquele Tribunal por sua nomeação.

A questão se resume em saber se o presidente Lula resgatará a representação do Rio de Getúlio Vargas, avô do PT.

A lista será encaminhada para o Executivo em momento delicado. Os governos estadual e federal não estão em sintonia; daí a necessária percepção pela Casa Civil de que o cargo a ser preenchido é apenas técnico e sem qualquer índole política.

Existe uma concentração de ministros paulistas e mineiros na Corte. Contudo, não se diga ou pense que tal situação decorra de um corporativismo intramuros. Ao contrário, os candidatos de nosso estado têm sido freqüentes nas indicações, apenas não finalizando a nomeação por falta de ginga no samba político... Em uma só palavra, falta articulação política em torno do candidato que é um sacerdote por vocação.

Ao todo, hoje, temos 16 ministros, sendo cinco paulistas, quatro mineiros (de sotaque), três sulistas (RS e PR), um do Distrito Federal, dois do Nordeste (RN e SE) e um paraense.

Para que o próximo ministro do TST seja um juiz carioca, o Rio precisa aprender a se unir em torno da boa mesa com bolo de milho, baforar o bom charuto e, sobretudo, aprender a fazer renda mais do que aprender a namorar...