Título: Apetite chinês já soma US$ 2,3 bi
Autor: Virgínia Silveira e Franci Monteles
Fonte: Jornal do Brasil, 16/11/2004, Economia & Negócios, p. A-17

Os negócios entre o Brasil e a China, realizados durante a visita da comitiva do presidente Hu Jintao ao país, já somam cerca de US$ 2,3 bilhões. Ontem, durante um encontro entre os investidores chineses com o governo do Maranhão, por ocasião de uma visita de representantes da China International Trust & Investment Corporation (Citic) ao porto maranhense, foi firmado um acordo que prevê um financiamento chinês de cerca de U$ 2 bilhões para as obras de infra-estrutura no Corredor de Exportação Norte. Além disso, a Embraer está negociando com uma companhia aérea chinesa a venda de mais dez aviões, avaliada em US$ 200 milhões. O terceiro acordo entre os dois países diz respeito às imagens do satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestre (CBERS-2), que serão negociadas no mercado internacional. O acordo que prevê a comercialização conjunta das imagens foi assinado pelos dois governos semana passada em Brasília. Segundo o Ministro da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos, o custo anual das imagens para os países interessados foi estipulado em US$ 250 mil, que corresponde ao valor da taxa por adesão.

Em São Luís, no Maranhão, as intervenções seriam feitas no porto do Itaqui e na Ferrovia Norte-Sul, que se estende do Maranhão a Goiás. Em troca do financiamento, os chineses querem soja. Esta forma de pagamento marcou a pauta da reunião, realizada ontem entre os chineses com o governo do Maranhão.

- Ainda vamos buscar mecanismos para chegar a esta definição - disse o presidente da Empresa Maranhense de Administração Portuária, Fernando Fialho, referindo-se à solicitação dos chineses.

Considerado um dos melhores portos do Brasil para o escoamento de soja e de minério, dois produtos de grande interesse dos chineses, o Itaqui é geograficamente e economicamente estratégico. Permite a atracação de navios com grande calado (19 metros) e está próximo dos mercados europeu, norte-americano e asiático.

- É uma questão estratégica em termos de logística que define o porto do Maranhão como um dos melhores do país - afirmou o vice-presidente da BrasilInvest, Sanderley Siusa, que acompanhou a missão chinesa durante a visita ao Maranhão.

Quanto ao acordo relativo ao satélite, até o momento, segundo o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Luiz Carlos Miranda, já existem 10 estações receptoras potenciais das imagens do CBERS no mundo, incluindo os Estados Unidos, Agência Espacial Européia, Alemanha, Venezuela, Austrália e África do Sul. Segundo estimativas do Inpe, o mercado de imagens de sensoriamento remoto deverá movimentar mais de US$ 13 bilhões entre os anos de 2000 a 2010.

Os satélites na categoria do CBERS, com resolução espacial de 3 a 30 metros, respondem hoje por 41% da demanda mundial. Com base no crescimento de 7% ao ano, a previsão é de que o valor do mercado potencial do CBERS seja da ordem de US$ 497 milhões.

- Isto significa que, se conseguirmos conquistar 20% do mercado potencial do CBERS, estaríamos nos igualando a Índia de 2003, que arrecadou US$ 80 milhões com a venda de imagens do seu satélite. Mais ainda, isto significaria o auto-financiamento do programa - explicou o diretor do Inpe.

No Brasil, o acesso às imagens do CBERS é gratuito e começou a ser disponibilizado via Internet, em junho deste ano. Desde então, mais de 45 mil imagens já foram distribuídas, para um total de 6,4 mil usuários de 2 mil instituições. Entre os principais usuários que acessam as imagens do CBERS estão as universidades públicas e privadas, órgãos do governo, prefeituras, jornais, empresas de geologia, petróleo, engenharia, aerolevantamento, saneamento, topografia, eletricidade, entre outras.

A cooperação com a China na área espacial, segundo o ministro da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos, é considerada uma das mais bem sucedidas parcerias internacionais desenvolvidas pelo Brasil.

- É um assunto tratado como prioridade, pois temos o maior interesse de que essa parceria se torne uma alavanca para a cooperação em outras áreas, como a de biotecnologia - disse.