Título: A ideologia dos cargos políticos
Autor: Rodrigo Camarão
Fonte: Jornal do Brasil, 11/12/2005, País, p. A2

Um grupo de 217 jovens petistas está de malas prontas para o PMDB do ex-governador Anthony Garotinho. Mais do que o aspecto simbólico e ideológico, no entanto, a debandada não se limita ao descontentamento com os escândalos que pegaram o PT de jeito. É, na verdade, uma tentativa de ganhar espaço político no governo estadual, o que os jovens não estavam conseguindo nas hostes petistas. Para reforçarem as trincheiras do PMDB às vésperas de um ano eleitoral, eles pediram participação em importantes programas estaduais, como a coordenação-geral do Centro Comunitário de Defesa da Cidadania (CCDC) e o programa Vida Nova, em Nova Aliança, Bangu, vinculado à Secretaria de Ação Social. Isso sem falar em áreas do programa Jovens Pela Paz, controlados hoje por Wilson Sombra e pela sua namorada e filha do casal Garotinho, Clarissa Matheus.

- Pretendemos ter participação no governo, mas não queremos a xepa. Conhecemos o nosso tamanho. Temos várias comunidades que estão conosco e precisamos dar uma resposta a essas comunidades. O governo do estado já está loteado, temos que chegar, adubar a terra para depois colher. Dissemos o que queríamos e deixamos o Garotinho à vontade para decidir - disse Márcio Santos, 22 anos, um dos líderes do movimento de debandada do partido que disputou a presidência do PT da capital, mas foi derrotado.

- A política precisa de espaço. Nossa saída teve um aspecto simbólico. A ministra Benedita da Silva nos ligou e outras pessoas do PT também, pedindo que nós ficássemos no partido, lembrando as relações que construímos no PT, mas o partido não conseguiu dar resposta à sociedade, assim como o PSDB. Então, vimos no Garotinho uma terceira via - acrescenta Rafael Belmiro, 22 anos, outro expoente do grupo e integrante do Diretório Estadual do PT.

O subsecretário de Governo e coordenação da capital, Rodrigo Bethlem, é a ponte entre os neo-peemedebistas e Garotinho e já sinalizou com a possibilidade de cooperar com os pedidos de espaço e cargos no governo, mostrando a boa vontado governamental. Outro interlocutor é Marcos Antônio Teixeira, o Marcosan, que também é ex-petista e atualmente ocupa a subsecretaria-adjunta administrativa, ligada diretamente ao gabinete da governadora Rosinha Matheus.

- Eles queriam saber se iam ter espaço no governo e se seriam discriminados pelo fato de saírem do PT. Não haverá discriminação e eles terão espaço para trabalhar partidariamente - afirma Bethlem, acrescentando que ainda não foi definida nenhuma participação dos ex-petistas no governo.

Em conversas com os novos colegas de partido, entretanto, Bethlem já avisou que ninguém ''ficará na chuva'' e que já repassou a Garotinho a possibilidade de nomear Márcio na coordenação-geral das CCDC e atender às outras reivindicações.

No PT, os 217 eram ligados à Opção Popular, corrente liderada pelo deputado federal Carlos Santana. O parlamentar entrou em contato com os líderes do movimento de saída do partido.

-Não está na hora de a gente perder ninguém. Precisamos conversar para saber o que ocorreu e tentar conscientizá-los. Na política, sempre há tempo para isso. Quero que a gente encontre uma solução. Liguei para o Marcinho pedindo que ele ficasse no partido, mas ele está muito triste - disse o parlamentar, que propôs fazer uma reunião com o grupo e um ato de refiliação.

O presidente do PT do Rio, Alberto Cantalice, que pertence ao Campo Majoritário, entretanto, desdenha a desfiliação.

-Eles não têm peso político. Fizeram uma chapa, tiveram votação pequena. Saíram por interesse por espaço político. Nós estranhamos a opção deles para o Garotinho. Isso não se justifica até porque não há mais prazo para se candidatarem a algo. Acreditamos, porém, que o governo tem feito pressão para cooptar prefeitos e lideranças políticas de vários partidos para integrarem o PMDB.

Dentro do Campo Majoritário do PT, a saída é vista, de modo geral, mais como um ato de fisiologismo que um protesto propriamente dito. Petistas acreditam que a desfiliacão mais tem a ver com os cargos oferecidos do que com a insatisfação pelo fato de se estar ligado ao partido do mensalão.

_ Eles colocaram o preço na testa e foram para o lado do Garotinho - desabafou um petista do diretório estadual.

O ex-candidato a presidente do partido na capital, Márcio Santos, nega a interpretação do ex-colega de PT.

-Não é só pelos cargos que estamos migrando de partido. É por um projeto maior. Fico muito abalado por estar num partido que está nessa crise toda - afirma o ex-petista Márcio Santos.