Título: Os caciques de mãos atadas
Autor: Juliana Rocha e Paulo Celso Pereira
Fonte: Jornal do Brasil, 11/12/2005, País, p. A3

Acostumados a decidir, os caciques do PMDB se vêem hoje diante de uma disputa em que pouco podem influenciar. Mesmo com a maioria dos líderes inclinados à idéia de candidatura própria à Presidência da República, o partido está prestes a ser obrigado a esquecer a opinião de seus comandantes em função da verticalização.

A regra, que determina que as alianças nacionais precisam se repetir nos Estados, obrigaria o partido, caso tivesse candidato próprio, a disputar os pleitos estaduais afastado do PT e do PSDB, únicas legendas que certamente terão candidatos. O próprio presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), reconhece as dificuldades:

- A tendência é ter candidato próprio, mas, se a verticalização for mantida, precisaremos analisar com muito cuidado os cenários nos Estados - analisa.

Com interesses diferentes em cada um dos Estados da federação, o PMDB estaria fadado ao fracasso nas disputas para governador. Segundo estudos de dentro do partido, se não houver verticalização, o PMDB tem chances de conquistar o poder em 18 unidades da federação. Caso a regra seja mantida e o partido tenha candidato próprio à Presidência, esse número cai para nove. Ou seja, só conseguiria pleitear o comando estadual onde hoje já detém o governo, caso do Rio de Janeiro, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Distrito Federal, Amazonas, Pernambuco e Tocantins.

Como as disputas estaduais na maioria das alas peemedebistas são mais fortes do que o interesse pela Presidência, a tendência é que o partido não tenha candidato próprio nem faça alianças a nível nacional.

Exemplos não faltam. Em Alagoas, o principal aliado do PMDB é o PCdoB, partido no qual é filiado o irmão do presidente do Senado, Renan Calheiros - um dos principais caciques peemedebistas. Valendo a regra da verticalização, o PCdoB, fiel aliado do PT, não poderia se coligar.

Situação semelhante ocorre no Maranhão, Estado comandado pelo ex-presidente José Sarney, que tem uma filha no PFL e um filho no PV.

Em minoria, na contramão desses grupos, encontra-se a ala liderada pelo presidente estadual do PMDB no Rio e ex-governador, Anthony Garotinho. Pré-candidato à Presidência da República, o secretário de Governo do Rio é considerado hoje imbatível nas prévias. Nos últimos meses Garotinho tem voado com o intuito de visitar todos os delegados do partido.

Seu plano, no entanto, está em risco não apenas pela verticalização, mas também pelo risco de as prévias, marcadas para o dia 5 de março, serem adiadas. O principal entrave, segundo peemedebistas, é que os senadores José Sarney e Renan Calheiros estariam segurando as listas de delegados de oito diretórios regionais. Sem essas listas, as prévias não podem ser feitas.

Caso as prévias atrasem, dificultaria a candidatura de Garotinho. Para o secretário, é importante que o resultado saia antes do fim de março, data limite para que sua mulher, a governadora Rosinha Garotinho, se afaste do governo do Rio para concorrer a algum cargo.

Diante de tantas dificuldades, alguns peemedebistas fazem hoje uma conta simples. Caso a verticalização se mantenha e o partido não tenha candidato à Presidência, isso não atrapalharia num posterior apoio ao presidente eleito.

Por terem 80 deputados federais e 22 senadores, o PMDB seria naturalmente procurado para dar sustentação a um futuro governo, seja ele qual for, e assim poderia pleitear ministérios e diretorias de estatais, como fez nos últimos três governos.

Ainda há mais um fator a ser considerado: por ser dividida internamente, a legenda consegue se valorizar, já que qualquer governante que deseje o apoio da ampla bancada peemedebista precisará negociar com vários caciques.

Comandantes da ala governista, Renan Calheiros e José Sarney são hoje dois dos homens mais fortes do partido e ainda ajudam a minar os planos de candidatura própria. Apesar de Renan declarar publicamente o contrário, ele defende que as prévias sejam adiadas. O que entendido como uma manobra para inviabilizar a chapa.

- Essa história de candidatura própria já está diluída. Mas já dissemos que é importante deixar as portas abertas para o segundo turno.

O líder baiano e deputado federal Geddel Vieira ataca:

- Você quer entender o Renan? Ele é de dizer uma coisa e fazer outra - assinala.