Correio Braziliense, n. 21879, 10/02/2023. Cidades, p. 14
Perícia livra Ibaneis de atos golpistas
Carlos Silva
Pablo Giovanni
Ana Maria Campos
A perícia da Polícia Federal nos celulares do governador Ibaneis Rocha (MDB) concluiu que não há evidências que apontem envolvimento do chefe do Executivo local nos atos golpistas do dia 8 de janeiro, quando terroristas invadiram e depredaram prédios na Praça dos Três Poderes. Diante disso, o ministro Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes determinou a devolução do aparelho ao dono. Com a decisão, a defesa do governador afastado solicitou, ontem à noite, ao ministro Alexandre de Morais o retorno imediato de Ibaneis ao cargo.
Os advogados enumeraram, em 19 páginas, os motivos que pedem o retorno do governador. “Nessa conformidade, seja porque as provas levantadas comprovam que o peticionário não participou da empreitada criminosa e golpista e, sobretudo, porque não há qualquer risco para a ordem pública ou mesmo para produção probatória, requer-se, com base no art. 282, § 5º, do CPP a revogação da cautelar de afastamento do peticionário da função de governador do Distrito Federal como medida de Justiça”, destaca o pedido.
Também foram devolvidos os celulares do então secretário-executivo de Segurança Pública, Fernando de Sousa Oliveira, do presidente do Partido Liberal, Valdemar Costa Neto, e de Marília Alencar, ex-diretora de inteligência da Segurança Pública do DF.
Segundo a análise assinada pelo agente da PF Daniel Dutra Araújo, a qual foi incluída no inquérito que tramita no Supremo Tribunal Federal, os atos do governador não tiveram como objetivo auxiliar o avanços dos terroristas na capital. O texto diz que “pela análise da mídia disponível, considerando todo exposto, de forma cronológica, a investigação não revelou atos do governador Ibaneis em mudar planejamento, desfazer ordens de autoridades das forças de segurança, omitir informações a autoridades superiores do governo federal ou mesmo de impedir a repressão do avanço dos manifestantes durante os atos de vandalismo e invasão”.
As conversas
Foram analisadas trocas de mensagens entre Ibaneis, advogados, integrantes do governo, jornalistas, autoridades do STF e do Congresso. Além disso, foram avaliadas 36 ligações recebidas e realizadas no telefone do governador. Um dos diálogos examinados foi uma conversa de 38 segundos com o então secretário de Segurança Pública do DF, Anderson Torres. Logo após, o titular da pasta envia ao governador o contato do secretário-executivo, delegado Fernando de Sousa Oliveira.
A partir do telefonema, o emedebista passa a se comunicar com Oliveira para saber mais sobre a situação na Praça dos Três Poderes e até compartilha o contato enviado por Torres com o ministro da Justiça, Flávio Dino. Ele também mandou uma mensagem em que afirmava ter tomado providências para lidar com o problema. Na véspera do dia dos atos, Ibaneis garantiu ao Presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) que todo o efetivo seria utilizado para fazer a segurança do local.
Cerca de 1h antes da situação se agravar, Fernando Oliveira tranquilizou Ibaneis Rocha. “Tudo tranquilo. Os manifestantes estão descendo lá do SMU, controlado, escoltados pela polícia. Tivemos uma negociação para eles descerem de forma pacífica, organizada, acompanhada e toparam. Não precisou conter lá em cima”, garantiu em áudio ao governador.
Às 16h25, os prédios públicos foram invadidos, e o chefe do Executivo local começou a receber mensagens da presidente do STF, Rosa Weber, sobre a situação. Já às 16h39, o emedebista determinou o uso do apoio da Força Nacional, solicitada imediatamente ao ministro Flávio Dino.
Estagiário sob a supervisão de Márcia Machado
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