Correio Braziliense, n. 21879, 10/02/2023. Cidades, p. 15

Polícia investiga golpe no Iprev 

Darcianne Diogo


Após dois anos de investigação, a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) junto ao Ministério Público (MPDF) desmantelou um esquema de corrupção e lavagem de dinheiro no Instituto de Previdência dos Servidores do Distrito Federal (Iprev). A operação Imprevidentes cumpriu oito mandados de busca e apreensão na capital e em dois estados do país. O Correio revelou, em primeira mão, que um dos investigados é o secretário de Planejamento, Orçamento e Administração (Seplad-DF) e ex-diretor-presidente do Iprev, Ney Ferraz.
A ação, desencadeada ontem, foi coordenada pela Delegacia de Repressão à Corrupção, vinculada ao Departamento de Combate a Corrupção e ao Crime Organizado (DRCOR/Decor). As investigações apontaram supostas irregularidades no chamamento para o credenciamento de fundos de investimento e instituições financeiras referentes a um edital do Iprev. A polícia constatou ilegalidades praticadas na gestão de ativos financeiros, desde o credenciamento até a destinação de recursos, o que indicava favorecimento a uma empresa de investimento com sede em São Paulo — também alvo de mandado de busca.
Outro ponto crucial para os investigadores comprovarem a prática criminosa foi a incompatibilidade entre o padrão de vida e os vencimentos percebidos pelos investigados. Nesse sentido, foi verificado o recebimento de quantias em espécie, e por meio de boletos, pelos investigados e por familiares. O possível envolvimento de um dos sócios da empresa de investimento com os servidores públicos corroboraram para a hipótese de que os gestores do Iprev agiram para favorecer a destinação de recursos para os fundos de investimento representados pela empresa alvo da operação, recebendo, como retribuição, vantagens indevidas pagas em dinheiro pelo responsável por ela.
Foram cumpridos oito mandados judiciais no DF, em São Paulo e em Teresina (PI), incluindo na sede do Iprev e nas empresas envolvidas e as residências dos investigados. O Correio apurou que a residência de Ney Ferraz, localizada no Noroeste, também foi alvo de busca e apreensão. A polícia apreendeu mais de R$ 580 mil.
Defesa
Com as provas colhidas, a polícia busca sedimentar a participação de cada integrante do grupo criminoso, identificar outros envolvidos, além de ressarcir os valores aos cofres públicos. Os suspeitos são investigados pela possível prática de crimes de corrupção passiva e ativa e lavagem de bens. Em caso de condenação, podem pegar até 22 anos de prisão.
A reportagem entrou em contato com a Seplad, pasta chefiada por Ney Ferraz, mas foi informada que o Iprev-DF deve ser procurado. Em nota, o Instituto disse estar à disposição das autoridades competentes para colaborar integralmente com toda a investigação. Até o fechamento desta reportagem, Ferraz não havia constituído advogado no processo. Dessa forma, não foi possível localizá-lo. O espaço segue aberto para manifestações.
Participaram da ação cerca de 50 policiais civis da PCDF, contando com apoio operacional de policiais da Gerência de Inteligência da Polícia Civil do Piauí e da Divisão de Investigação de Crimes contra a Administração e Combate à Corrupção e Lavagem ou Ocultação de Bens, Direitos e Valores (DPPC) da Polícia Civil do Estado de São Paulo.