Valor Econômico, v. 20, n. 4980,
14/04/2020. Brasil, p. A3
Receita tem queda real antes da
pandemia
Ribamar Oliveira
A receita de tributos federais em março ainda não sofreu impacto da quarentena
imposta pelos governos para reduzir a contaminação da população pelo novo
coronavírus. Informações preliminares indicam uma queda, em termos nominais, de
cerca de 2,5% na arrecadação dos tributos administrados pela
Receita Federal (excluída a contribuição à Previdência Social), na
comparação com março do ano passado. Em termos reais, a queda foi superior a
5%.
Os fatos geradores da arrecadação de
março são de fevereiro, quando o distanciamento social ainda não tinha sido
adotado. A maior parte dos tributos é paga no mês seguinte ao da competência. A
queda da arrecadação em março não está, portanto, diretamente relacionada
à covid-19. A receita de abril será um melhor indicador dos efeitos da
pandemia.
Os dados do Siafi, o sistema
eletrônico que registra todas as receitas e despesas da União, mostram que, em
março, nem todos os tributos apresentaram queda nominal. A arrecadação da
Cofins e do PIS/Pasep, por exemplo, mostra pequena alta nominal, embora possa
ter ocorrido queda real (quando se desconta a inflação do período).
Contribuição Social sobre o Lucro
Líquido (CSLL). Os dados se referem às receitas já deduzidas das restituições e
dos incentivos fiscais. Na próxima semana, a Receita Federal do Brasil (RFB)
deverá divulgar os dados oficiais, sendo que, nesse caso, as receitas serão
brutas.
A rigor, os dados preliminares de
março reforçam o que já aconteceu em fevereiro, quando a receita dos
tributos federais apresentou forte queda. Em outras palavras, a arrecadação
tributária já estava caindo no Brasil antes mesmo da pandemia do novo coronavírus.
No segundo mês deste ano, os tributos administrados pela RFB (excluída a
contribuição à Previdência Social) apresentaram queda nominal de 3,4%,
na comparação com fevereiro de 2019.
A queda real (descontada a inflação
do período) em fevereiro foi de 7,1%, na comparação com o mesmo mês do ano
passado, de acordo com o Resultado do Tesouro Nacional (RTN). Todos os dados
sobre as receitas estão líquidos de restituições e de incentivos fiscais. Ou
seja, são os valores que o governo tem disponíveis para executar as
despesas orçamentárias.
Ao contrário de março, em fevereiro
houve queda nominal da receita da Cofins e do PIS/Pasep. No caso da Cofins, a
queda real foi de 13,9%. Também houve queda da arrecadação do Imposto de Renda
e da CSLL.
Em fevereiro, a arrecadação líquida
da Previdência Social apresentou um crescimento nominal, mas com uma pequena
queda real, de 0,8%. Ainda não é conhecido o resultado da receita
previdenciária em março.
A queda real da receita total da
União em fevereiro foi de 2,9%, de acordo com o Tesouro. O que salvou o governo
em fevereiro foi a subida de 21,4% das receitas não administradas pela
RFB, entre elas os royalties do petróleo. O resultado dessa receita em março
ainda não está disponível.