Valor Econômico, v. 20, n. 4980, 14/04/2020. Brasil, p. A2

Revisão de dados de exportação leva superávit do 1º tri a cair 9,3%

Marta Watanabe
Álvaro Fagundes 


O governo federal atualizou os dados de balança comercial relativos a fevereiro. A mudança reduziu em 9,3% o superávit comercial de janeiro a março divulgado no último dia 1º.

As exportações do mês de fevereiro, calculadas anteriormente em US$ 16,36 bilhões, caíram para US$ 15,73 bilhões. As importações foram mantidas em US$ 13,26 bilhões. Com a mudança, o superávit comercial anteriormente divulgado para fevereiro caiu de US$ 3,096 bilhões para US$ 2,475 bilhões.

Com a atualização, o superávit de janeiro a março, que era de US$ 6,135 bilhões, caiu para US$ 5,562 bilhões. A queda de saldo positivo do primeiro trimestre, que antes era de 33,1% em relação a igual período do ano anterior, pela média de dias úteis, passa a ser de 39,4% no mesmo critério.

Levantamento do Valor com base em dados de fevereiro divulgados pelo governo federal antes e depois da revisão mostram que dentre os 39 produtos exportação discriminados, em seis houve, após atualização, redução de valor a partir de US$ 10 milhões. O maior recuo ficou com o algodão, cujo embarque caiu de US$ 976 milhões para US$ 527 milhões, numa redução de US$ 449 milhões. O milho caiu em US$ 71 milhões, e o óleo combustível, em US$ 78 milhões. Alguns produtos tiveram o valor revisado para cima: em US$ 48 milhões para soja e US$ 73 milhões para petróleo.

Por regiões de destino, o maior ajuste em termos de redução ficou para a União Europeia, com US$ 551 milhões. Já a exportação para  aumentou em US$ 123 milhões.

Procurada, a Subsecretaria de Inteligência e Estatísticas de Comércio Exterior (Secex), ligada ao Ministério da Economia, diz em nota que trata-se de revisão ordinária e por isso não foi emitido aviso sobre a mudança de números. Os dados de fevereiro divulgados no último dia 1º eram “preliminares”, diz o órgão. Em até cinco dias após a divulgação dos relatórios mensais à imprensa, informa a nota, os dados dos meses anteriores são capturados novamente, consolidados e divulgados em páginas e estatísticas oficiais.

Segundo analista que acompanha a divulgação desses dados, as revisões ordinárias sempre existiram, mas a magnitude da aplicada para os números de fevereiro salta aos olhos. O saldo de janeiro também foi revisado, mas em escala menor, passando de déficit de US$ 1,674 bilhão para déficit de US$ 1,626 bilhão.

Os dados de exportação passaram a sofrer alterações maiores, em relação ao que ocorria anteriormente, diz a Secex, desde a implementação do Portal Único de Comércio Exterior, em 2018. O novo sistema contribuiu para a Secex ter acesso a uma gama maior de informações e com dados mais precisos. Com isso, foi possível adequar melhor os dados de exportação às recomendações internacionais das

Nações Unidas. A secretaria diz ainda que quando os reprocessamentos mensais alteram os dados, as mudanças são em torno de 1% do valor total exportado.

O reprocessamento de períodos anteriores na divulgação da balança do mês, diz a Secex, é feito mensalmente, como resultado da dinâmica das declarações de comércio exterior, que podem sofrer recorrentes alterações em valores e volumes por parte dos declarantes. “Mudanças nos meses anteriores são normais e sempre acontecem. Dependendo da magnitude das alterações que os exportadores e importadores realizam em suas declarações, a diferença pode ser em maior ou menor volume”, diz.

Não é a primeira vez que a Secex faz revisões. No fim do ano passado houve uma revisão dos dados de 2019 que provocou readequação dos dados do Banco Central (BC). Na época a autoridade monetária informou revisão que havia sido feita pela Secex nas estatísticas de exportações de bens no decorrer de 2019, o que resultou num aumento de US$ 1,4 bilhão no valor acumulado no ano.

O aumento ficou concentrado no mês de agosto, quando a mudança de valor foi de US$ 1 bilhão. Nos demais meses, houve aumentos e reduções. A revisão dos dados pela Secex levou o BC a revisar as estatísticas de exportações de bens das transações correntes do balanço de pagamentos.