Título: Mercado prevê alta dos juros
Autor: Rafael Rosas
Fonte: Jornal do Brasil, 16/11/2004, Economia & Negócios, p. A-18

A reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), que começa hoje em Brasília, não causa tanta apreensão ao mercado financeiro. As análises das atas das mais recentes reuniões e das declarações de integrantes do BC apontam para aumento gradual do juro básico, atualmente em 16,75% ao ano. Para o encontro de novembro, que termina amanhã, os analistas são praticamente unânimes ao projetar alta de 0,50 ponto percentual para a Selic, o que elevaria a taxa para 17,25% ao ano.

Em sondagem realizada pela InvestNews com 21 instituições financeiras, 19 empresas projetaram alta de 0,50 ponto percentual, enquanto apenas duas apostaram em elevação de 0,25 ponto para a Selic.

Os entrevistados que estimam elevação de 0,25 ponto defendem que ajustes bruscos inibem o crescimento da economia, prejudicando o desenvolvimento das empresas.

- Dados da produção industrial indicam enfraquecimento, mostrando que não há necessidade de subir tanto os juros - diz Márcio Tauffenbach, gerente da mesa de captação do Banco Cacique.

Para o economista Roberto Padovani, da Consultoria Tendências, no entanto, as recentes altas dos juros não impactaram o consumidor, o que abre espaço para novos aumentos. De acordo com ele, o que se observa é uma pequena acomodação no mercado de crédito.

- Os cortes efetuados nos juros em 2003 estimularam o crédito. Com o tempo, atingiu-se um patamar de estabilidade no segmento. É por isso que a concessão de crédito recuou e não por causa da Selic - explica, acrescentando que a desaceleração observada em alguns setores da indústria também não pode ser creditada ao Copom, sendo fruto do avanço menor registrado pelas exportações.

Padovani, que aposta na decisão do Copom de elevar o juro básico em 0,50 ponto, lista três fatores prioritários para o BC na definição da Selic. O economista afirma que a autoridade monetária centra as atenções atualmente no hiato do produto (diferença entre o crescimento máximo que pode ser alcançado pela economia sem gerar pressão inflacionária e o produto efetivo), no cenário internacional - principalmente nos preços do petróleo - e nas projeções de inflação para 2005.

- A meta de inflação para o ano que vem é de 5,1% e as projeções do mercado dão conta de 5,9%. Esse é o principal fator de pressão sobre a Selic - explica.

Segundo o economista da Tendências, o comportamento dos preços esperado para o ano que vem será determinante na reunião desta semana, apesar das recentes quedas do petróleo no exterior e do dólar no mercado interno.

Cristiano Oliveira, economista do Banco Schahin, lembra que o BC trabalha cada vez mais como gerenciador de expectativas e que o núcleo da inflação é a maior causa de apreensão atual, o que deverá levar a uma alta de 0,50 ponto percentual da Selic.

O comportamento do BC, segundo Oliveira, deve levar o Brasil a registrar um perfil de crescimento em 2005 diferente do que se viu este ano.

- Em 2004, houve forte crescimento no primeiro semestre, de 6% em valores anualizados. Nos últimos seis meses do ano, o avanço foi menor. No ano que vem, devido ao aperto gradual de juros, a alta do PIB anualizado deve cair para 3,5% de janeiro a junho, com aceleração de julho a dezembro - prevê.

Os economistas acreditam ainda que o atual momento dá tranqüilidade para o BC agir de forma a corrigir possíveis desvios para 2005. Padovani lembra que a alta gradual do juro nos Estados Unidos - semana passada o Federal Reserve subiu os juros para 2% ao ano - ajuda os países emergentes, contribuindo para um câmbio estável e para um fluxo positivo, já que indica que a economia mundial cresce, mas sem perspectiva de inflação.

- Se o ajuste do Fed fosse maior aí sim poderíamos ter alguma pressão sob o Brasil - destaca.