O Globo, n. 32481, 12/07/2022. Política, p. 7
Em Brasília, Lula terá reunião com Pacheco
Jeniffer Gularte
Camila Zarur
Eleito para o cargo com apoio tanto de petistas quanto do governo, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), vai se reunir amanhã com o expresidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que chegou ontem a Brasília e terá uma série de encontros políticos.
Em Minas Gerais, PT e PSD aliaram-se em torno da candidatura ao governo do ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PSD). O senador Alexandre Silveira, um dos principais aliados do presidente do Senado, tentará a reeleição na mesma chapa — Pacheco, por ora, ainda não deu sinais do posicionamento na corrida pelo Palácio do Planalto.
— Ficou pré-agendado o encontro para quarta-feira (amanhã) com a bancada do PT e o ex-presidente Lula, o que, repito, vejo como algo natural, institucional e importante para demonstrar que as instituições desse país conversam, dialogam. Podem não convergir sempre, mas há um ambiente de diálogo e de muito respeito mútuo entre todos — disse Pacheco.
Este será o principal compromisso de Lula na capital federal, onde participará a partir de hoje de encontros políticos, um ato público coma militância e reuniões com entidades empresariais e setores da cultura. Em um desses encontros, ele será recebido na sede da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
“É a minha obrigação”
O encontro entre Pacheco e o ex-presidente ocorre meses depois de o petista tentar atrair o apoio de Gilberto Kassab, presidente do PSD, para uma aliança. Kassab, contudo, tem adotado a postura de neutralidade na disputa federal, fechando apoios apenas nos estados. O dirigente chegou a defender candidatura própria do partido ao Planalto, mas. por falta de um nome competitivo, optou por priorizar a formação de bancada na Câmara e no Senado.
Na semana passada, em um gesto no sentido oposto aos interesses de Lula, Kassab selou o acordo com a pré-candidatura do ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), nome de Bolsonaro ao governo de São Paulo.
— Evidentemente, eu recebo qualquer bancada do Senado, qualquer pré-candidato de qualquer dessas bancadas e ainda mais um ex-presidente da República. É a minha obrigação, como presidente do Senado, receber—acrescentou o presidente do Senado.
Em abril, Pacheco já havia se reunido com o ex-ministro Ciro Gomes, pré-candidato à Presidência pelo PDT, em um almoço que também ocorreu na residência oficial, em Brasília. Na ocasião, o pedetista disse que gostaria de ter o apoio do PSD e negociava com Kalil uma aliança em Minas, o que acabou não se concretizando.
Com a presença de líderes locais e de apoiadores, Lula participará de um ato público no Centro de Convenções Ulysses Guimarães no fim da tarde de hoje. Antes, o petista terá uma série de encontros políticos em um hotel, onde receberá aliados do Mato Grosso, Amazonas, Amapá e Goiás.
O senador Eduardo Braga (MDB-AM) é um dos que se encontrarão com ex-presidente. Líder da bancada do MDB no Senado, Braga é pré-candidato ao governo do Amazonas e está trabalhando para o PT ao seu lado. O senador Omar Aziz (PSDAM), que também já declarou apoio ao petista, afirmou que se reunirá com Lula para tentar costurar uma viagem do ex-presidente ao Amazonas ainda neste mês.
Integrante da bancada ruralista e pré-candidato ao Senado pelo Mato Grosso, o deputado federal Neri Geller (PP-MT) é outro que aproveitará a viagem de Lula a Brasília para negociar apoio eleitoral. Ele disse que articula com a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, uma aliança local com a federação formada por PT, PV e PC do B.
No governo Dilma Rousseff, Geller foi ministro da Agricultura e, agora, tem aval da direção nacional do PP para ter o petista no palanque, mesmo com a sua sigla fazendo parte da aliança de Bolsonaro. A conversa terá a participação do senador Carlos Fávaro (PSD-MT), ex-vice-líder do governo no Senado, e de Geraldo Alckmin (PSB-SP), pré-candidato a vice na chapa de Lula.
— Estou na base do governo mas nunca deixei de reconhecer os avanços na agropecuária no governo Dilma —disse Geller.
“É algo natural, institucional e importante para demonstrar que as instituições desse país conversam. Podem não convergir sempre, mas há o respeito mútuo”
Rodrigo Pacheco, presidente do Senado