Título: Natal em até 36 vezes
Autor: Bruno Rosa
Fonte: Jornal do Brasil, 11/12/2005, Economia & Negócios, p. A17

Com a queda nas vendas, os altos juros da economia e o elevado nível de endividamento dos consumidores, o varejo estica o quanto pode o prazo dos parcelamentos neste fim de ano. De acordo com levantamento da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), o número de parcelas aumentou neste Natal em relação ao ano passado. O número médio saltou de 12 vezes, em 2004, para 15 meses. O prazo máximo subiu de 24 para 36 prestações em igual período para compras de bens diversos, exceto automóveis.

Na avaliação de Miguel José Ribeiro de Oliveira, vice-presidente da Anefac, o comércio investe nas facilidades do pagamento financiado porque as vendas fracas deixaram os estoques cheios.

- O comércio estocou muito e precisa ter giro de seus produtos, por isso está facilitando o pagamento em várias prestações para poder elevar as vendas. Do outro lado, o salário do trabalhador também não teve alta real, o que facilita a compra em prestações. Será o Natal dos parcelamentos - endossa Oliveira, lembrando que no ano passado os juros estavam em trajetória de alta, o que afugentou os consumidores das prestações.

Apesar da queda de 1,25 ponto percentual da Selic nos três últimos meses, as taxas cobradas pelo comércio e instituições financeiras ainda estão muito altas em relação aos juros básicos da economia, hoje, em 18,5% ao ano. O crediário, segundo levantamento recente da Anefac, cobra juros de 6,10% ao mês; o cartão de crédito, 10,30% ao mês e o cheque especial, 8,23% ao mês.

- O comércio repassa a queda automaticamente, mas ainda é uma retração com pouca percepção por parte do consumidor. Como a tendência dos juros é de recuo, as compras parceladas prometem ganhar forte impulso - completa Oliveira.

O varejo, no entanto, vai além. Algumas grifes anunciam nas vitrines o pagamento da primeira prestação só em março. A Lojas Americanas, do Shopping Grande Rio por exemplo, aceita o pagamento em até 12 vezes sem juros com valor mínimo de parcela de R$ 10. Outras redes passaram, pela primeira vez, a aceitar pagamento em até dez meses, como a Leader Magazine, que permite uma parcela mínima de R$ 15.

- Dando crédito, as pessoas consomem mais - diz Carlos Alberto Correa, superintendente da Leader, que espera que 2 milhões de pessoas passem pelas 30 lojas neste Natal.

Até as marcas mais badaladas entraram com força na onda do parcelamento. A Sandpiper do NorteShopping parcela em quatro vezes com o primeiro cheque em abril, com uma parcela mínima de R$ 40. Já M.Officer, do Botafogo Praia Shopping, está parcelando as compras em 10 vezes sem juros. Não há valor mínimo de compra para fazer esse parcelamento. O primeiro cheque pode ser para 10 de março nas lojas da grife. Além disso, em compras acima de R$ 500, o cliente ainda ganha uma sacola e uma toalha de brinde.

- Queremos atrair o consumidor para a loja e surpreendê-lo. Nós esperamos vender muito, praticamente tudo o que temos no estoque. É difícil alguém vir na loja e comprar apenas um produto. Temos peças de várias faixas de preço. Dá para comprar para a família toda - afirma Sabrina Nunes, supervisora da M.Officer.

A Rozenlândia Brinquedos, no Rio Design Leblon, oferece cheque pré-datado para 15 de fevereiro de 2006. Para Mauro Alves, gerente da loja, os clientes estão optando por pagamento dividido em seis vezes, apesar da loja oferecer desconto de 10% nas compras à vista. A estudante Danielle de Oliveira, de 19 anos, faz as compras no cartão.

- É mais prático. Pagar a prazo no cheque é complicado - diz ela, enquanto passeava no Shopping Tijuca.