Valor Econômico, v. 20, n. 4980, 14/04/2020. Internacional, p. A11

Com cautela, países iniciam reabertura da economia

Andrew Restuccia
Jennifer Calfas
John Lyons


Na ausência de um consenso científico sobre a facilidade com que o vírus pode ser transmitido pelo ar ou se aqueles que foram infectados estão imunes a novos contágios, muitos governos na Europa e Ásia buscam reabrir suas economias. Mas, ao mesmo tempo, alertam suas populações de que o relaxamento das medidas de confinamento deve ocorrer lentamente e que algumas restrições podem permanecer por meses.

Na França, o presidente Emmanuel Macron disse ontem que há planos para reabrir gradualmente a economia do país a partir da metade de maio. Mas ele estendeu a política nacional de confinamento por quase um mês.

A partir de 11 de maio, disse Macron, “o maior número possível de trabalhadores” poderá começar a retomar as atividades, permitindo à França reabrir fábricas, escolas e creches. Restaurantes, cinemas e outros espaços públicos inicialmente permanecerão fechados enquanto as autoridades avaliam as mudanças e fazem ajustes ao longo do caminho, disse Macron.

Na Espanha, que tem o segundo maior número casos da covid-19 no mundo e algumas das medidas mais duras de confinamento, as autoridades começaram ontem a afrouxar as restrições, permitindo a retomada de algumas atividades consideradas não essenciais. Madri permitiu ontem o retorno ao trabalho de cerca de 300 mil trabalhadores da indústria manufatureira, setor de construção e de alguns serviços. O restante da população deve permanecer confinado.

Mas o governo alertou que os trabalhadores devem seguir as rígidas orientações de saúde. Ontem a Espanha registrou o menor número de novos casos desde 20 de março, reforçando as esperanças de que o país possa ter atravessado o auge da epidemia.

Outros países europeus como Áustria, Dinamarca, Polônia, Noruega e República Tcheca sinalizaram que começarão a suspender algumas medidas de confinamento neste mês. Autoridades federais e estaduais da Alemanha reúnem-se amanhã para coordenar os planos de saída do confinamento. Até ontem, a Europa tinha quase 900 mil casos confirmados, com mais de 77 mil mortes.

Na Itália, um dos países mais atingidos pela pandemia, as autoridades decidiram estender a maior parte das medidas de confinamento até 3 de maio, rejeitando os pedidos de muitas empresas e associações empresariais para permitir a reabertura de fábricas. Além disso, o Conselho Superior de Saúde recomendou que as aulas só sejam retomadas no próximo ano letivo, a partir de setembro.

Mas, a partir de hoje, algumas atividades comerciais, como livrarias, papelarias e lojas de roupa para crianças, poderão reabrir.

Ontem, o número de novos contágios na Itália cresceu só cerca de 2%, levando o total para 159.516, confirmando a desaceleração recente. O número de mortes diárias também manteve a tendência de queda, e o total superou ontem 20.400. As autoridades relataram 566 novas mortes ontem, um dos números mais baixos das últimas três semanas, enquanto o número de pessoas sob cuidados intensivos vem caindo há dez dias.

Na Áustria, também a partir de hoje, milhares de lojas de até 400 m2 poderão voltar a funcionar, assim como o comércio de materiais de construção e de jardinagem. Contudo, o governo do premiê Sebastian Kurz alertou que o país “ainda não está fora de perigo”. Para evitar o de contágio, o governo estabeleceu um limite no número de clientes em cada loja e todos os funcionários do estabelecimento devem usar máscaras.

A pressão econômica pelo fim das quarentenas vem crescendo no mundo todo, mas a Ásia envia um alerta sobre o risco de novas infecções à medida que os países tentam retornar à normalidade. Na Coreia do Sul, autoridades alertaram que qualquer tentativa de um retorno rápido à vida normal poderá desencadear novas infecções, que poderão sair de controle.

O alerta ocorreu um dia depois de o país anunciar apenas 25 novos casos no período de 24 horas, gerando otimismo de que os esforços - que incluíram testes em grande escala e distanciamento social - venham sendo bem-sucedidos no controle da pandemia, após o registro de mais de 900 casos por dia em fevereiro. / Dow Jones Newswires