O Globo, n. 32481, 12/07/2022. Política, p. 4
Escalada da violência
Camila Zarur
Fernanda Trisotto
Ivan Martínez-Vargas
Jeniffer Gularte
Louise Queiroga
O assassinato do guarda municipal e tesoureiro do PT Marcelo Arruda em Foz do Iguaçu (PR), cometido pelo agente penal bolsonarista Jorge Guaranho no último sábado, deflagrou uma campanha para tentar conter o ambiente de escalada de violência que domina o período pré eleitoral. Autoridades manifestaram repúdio ao ato, que dominou a reunião do conselho político da pré campanha de Lula, ontem, em São Paulo. O PT e siglas aliadas decidiram pedir ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que institua multa a candidatos ou partidos que incitem discurso de ódio, e atribuíram a agressividades de apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) à retórica agressiva do presidente. Bolsonaro ontem disse ser contra violência e falar em sentido figurado (leia mais na página 6). Dirigentes da coligação petista buscam um encontro com o ministro Alexandre de Moraes, futuro presidente do TSE, nos próximos dias.
A presidente do PT, a deputada federal Gleisi Hoffmann, afirmou que Bolsonaro e seu partido devem responder à Justiça Eleitoral toda vez que o presidente incitar a violência e servir de “gatilho” para atos de violência política contra opositores.
— Ele não pode ficar sem resposta. Estamos estudando para saber como formular (uma ação). Ele não pode ficar dando suas mensagens naquelas lives irresponsáveis e atiçar pessoas a cometer atos de violência —afirmou a petista, que esteve ontem no velório de Marcelo Arruda, em Foz do Iguaçu.
A Justiça do Paraná determinou ontem a prisão preventiva de Jorge Guarunho a pedido do Ministério Público. A decisão afirma que “resta evidenciado que o flagrado coloca em risco a ordem social, se revelando necessária a contenção cautelar para evitar a reiteração criminosa”. Guarunho, que foi atingido por tiros disparados por Marcelo Arruda após ser ferido, está internado ainda em estado grave. Ele foi transferido de hospital e segue sedado.
Orientações
Na reunião política em São Paulo, Lula avaliou que há uma tendência de aumento da violência política. O petista afirmou, segundo relato de presentes, que a militância não deve se intimidar nem cair em provocações. O partido tem, contudo, reforçado medidas de seguranças para apoiadores que desejem comparecer a atos políticos. Hoje, Lula estará num evento aberto ao público em Brasília, e o diretório petista no Distrito Federal deu recomendações aos militantes. A orientação é para se chegar cedo, não levar mochilas e bolsas grandes ou garrafas de água. Bandeiras só entrarão sem mastro ou cabo. Será exigido documento de identificação na entrada, que terá revista com detector de metal.
A segurança pessoal de Lula já havia sido reforçada pela Polícia Federal antes do seu comício na Cinelândia, na última quinta-feira, quando uma artefato caseiro com material semelhante a fezes foi arremessado desde o lado de fora para uma área próxima ao palco e explodiu, sem deixar feridos.
Hoje, o PT e as legendas da coligação também pedirão ao TSE que faça uma campanha por eleições pacíficas. Em nota divulgada ontem, o Movimento Vamos Juntos pelo Brasil reafirmou que a escalada da violência é “criminosamente estimulada pelas atitudes e pelo discurso de ódio do atual presidente da República contra todos que dele divergem ou lhe fazem oposição” e adiantou que levará ao TSE o que chamam de Memorial da Violência Política contra a Oposição no Brasil. No documento, a coalizão lista crimes cometidos por bolsonaristas e lembram episódios recentes em atos de Lula, como o da Cinelândia, do Rio, na semana passada, em que um bomba foi jogada contra o público.
O assassinato do dirigente petista também ecoou no Congresso. Presidentes das Casas legislativas, o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e o deputado Arthur Lira (PP-AL) cobraram tolerância no debate político. Pacheco afirmou que cabe a Lula e Bolsonaro criar um ambiente de paz durante a eleição.
— A responsabilidade deles (Lula e Bolsonaro) é muito grande, de ter responsabilidade na fala, na forma de conduzir. Não adianta jogar a culpa um para o outro. Eles têm que repudiar qualquer ato de violência, seja praticado por um lado, seja praticado por outro.
Em nota, Lira (PP-AL) repudiou a morte de Arruda:
“A Câmara dos Deputados repudia qualquer ato de violência, ainda mais decorrente de manifestações políticas. A democracia pressupõe o amplo debate de ideias e a garantia da defesa de posições partidárias, com tolerância e respeito à liberdade de expressão”.