Título: Racha no templo da indústria
Autor: Sérgio Prado e Mariana Carneiro
Fonte: Jornal do Brasil, 11/12/2005, Economia & Negócios, p. A20
O ministro Antonio Palocci é pivô de uma forte ruptura no meio empresarial. Pela primeira vez, a posição do ministro da Fazenda coloca em lados opostos o comando das federações da indústria do Rio e de São Paulo, pela ordem lideradas por Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira e Paulo Skaf. A Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) levantou o tom da voz contra a política econômica conduzida por Palocci. Seu presidente classifica de infundada a tese de que a queda do Produto Interno Bruto (PIB) se deve à crise política. No terceiro trimestre, a atividade recuou 1,2%.
- O que é preciso agora é correção da política econômica, independente de quem seja o titular da Fazenda - afirma Skaf.
Nos bastidores de Brasília, integrantes do grupo do líder da Fiesp dizem que ele considera a posição do ministro da Fazenda indefensável. O motivo principal é a alta dose de juros, que está matando o crescimento prometido por Luiz Inácio Lula da Silva.
As farpas de Skaf se estendem a seu colega da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan). Embora evite críticas em público, em conversas reservadas o paulista bate duro. Afirma que não entende como um industrial pode defender Palocci, diante do desastre provocado pela política monetária e pelo arrocho fiscal que, no final das contas, corroem os investimentos.
- A vida de quem produz virou um verdadeiro inferno - disse Skaf, na segunda-feira, no mesmo dia que o ministro do Trabalho e amigo de Lula, Luiz Marinho, participava de um seminário na Fiesp, em São Paulo.
Eduardo Eugenio não deixa dúvidas de que apóia o ministro e que, apesar de correções na taxa de juros, se caminha no rumo certo.
- Gostaria que ele (Skaf) dissesse qual modelo alternativo sugere - critica Eduardo Eugenio. - Estamos plantando para ter um país decentemente civilizado no futuro. Não para debater se em 2006 teremos um crescimento de 4% ou 3,5%. O país não é uma empresa. E não existe outra forma de conseguirmos isso a não ser cortando gastos pelos próximos 40 anos.
Ainda deve estar na lembrança do ministro a sala cheia de deputados e empresários que Eduardo Eugenio arregimentou em um almoço de apoio ao ministro, apesar da má notícia da véspera (o evento ocorreu no dia seguinte à divulgação do PIB). ''Não sabia que tinha tantos amigos no Rio'', chegou a comemorar.
- O ministro Palocci é o símbolo dessa política. Não entendo empresário exigindo flexibilização de meta (de inflação). No passado, quem teve dinheiro se apropriou da poupança pública. Hoje, fazemos esse esforço social em decorrência disso - avalia. No almoço, Eduardo Eugenio teve a companhia de Armando Monteiro Neto (CNI) e Cláudio Vaz (Ciesp). Skaf, segundo o presidente da Firjan, declinou alegando compromissos no interior de São Paulo.