Título: Bradesco ensaiava compra do Banco Santos
Autor: Janaina Leite
Fonte: Jornal do Brasil, 16/11/2004, Economia & Negócios, p. A-19

O Banco Central e o mercado financeiro apostam em um fim rápido para a intervenção do Banco Santos. O motivo seria a disposição do Bradesco, maior instituição financeira privada do Brasil, em comprar o banco de Edemar Cid Ferreira. As negociações estariam aceleradas desde meados deste ano, mas esbarram em uma dificuldade - para evitar mais desgaste, o governo não estaria disposto a bancar a operação, como fez na década de 90 com o Programa de Estímulo e Reestruturação do Sistema Financeiro (Proer).

As agências do Banco Santos permanecerão fechadas hoje. A intervenção do BC no Banco Santos ocorreu na noite da última sexta-feira, ressuscitando uma prática fora de uso desde 1998. Era pouco mais de 22 horas quando a autoridade monetária avisou que a instituição paulista, assim como a Santos Corretora de Câmbio, estavam impedidas de operar. Isso porque ambas estariam sofrendo uma crise de liquidez e não teriam condições de honrar seus compromissos. Nos cálculos dos técnicos do BC, o rombo no caixa do Banco Santos chega a R$ 100 milhões, o que levaria à necessidade de um aporte mínimo de R$ 700 milhões para salvar a instituição.

- Certamente eles tiveram a chance de vender antes da intervenção, mas a situação do banco se deteriorou muito rápido - avaliou um ex-diretor da autoridade monetária.

Pelo último balanço contábil, o Banco Santos tem hoje um patrimônio líquido de R$ 607 milhões. Os ativos estariam na casa dos R$ 6 bilhões e, ao todo, emprega 303 funcionários. O resultado é a 21ª posição do ranking nacional. O maior atrativo do Banco Santos é a carteira de clientes, recheada com algo em torno de 700 empresas.

- Quando os devedores são empresas, os créditos tornam-se facilmente negociáveis - observou um banqueiro paulista.

Além disso, como o banco está sob intervenção e não foi liquidado, a necessidade de provisões decidida pelo BC é passível de revisão. Em caso de diminuição, portanto, o comprador poderá acabar beneficiado. O segundo ponto a favor da venda seria a grande quantidade de recursos de fundos de pensão estatais sob a responsabilidade do Banco Santos. O dinheiro, segundo fontes do BC, viria da Região Sul. Esse aspecto e a forte suspeita de irregularidades nos lançamentos contábeis do Banco Santos teriam orientado a escolha do interventor para a instituição. O cargo ficou com o paranaense Vânio Cesar Pickler, atual chefe do Departamento de Supervisão Indireta do Banco Central.

Assim, os advogados do Banco Santos vão se reunir amanhã com o interventor do Banco Central. O banqueiro Edemar Cid Ferreira reafirmou ontem aos seus advogados em sua casa, em São Paulo, que não havia motivos para a intervenção.

- Uma das maneiras de se sair dessa situação será conseguir, de qualquer modo, uma injeção de recursos ou conseguir alienar o banco e a corretora. Uma das opções, sem dúvida nenhuma, é vender o banco - afirmou o advogado Sérgio Bermudes.