Correio Braziliense, n. 21882, 13/02/2023. Economia, p. 7
Risco ambiental na pauta de entidades de fomento
Rosana Hessel
A troca de governo colocou o Brasil de volta ao cenário de respeito ao meio ambiente e da preocupação com as mudanças climáticas. Não à toa, os dados recentes do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram queda de 61% no número de alertas de desmatamento na Amazônia no primeiro mês da gestão do terceiro mandato do petista Luiz Inácio Lula da Silva. Tudo indica que, no setor financeiro, a preocupação com os riscos ambientais tende a ficar mais rigorosa na concessão de empréstimos estratégicos de instituições de fomento, de acordo com a presidente da Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE), Jeanette Halmenschlager Lontra, em entrevista ao Correio.
Segundo ela, a resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN), que incorporou como obrigatória a questão dos riscos climáticos na Política de Responsabilidade Socioambiental (PRSA) das instituições reguladas pelo Banco Central, o segmento está em processo de adaptação às novas regras. A mudança entrou em vigor em dezembro passado.
A Política de Responsabilidade Social, Ambiental e Climática (PRSAC) consiste no conjunto de princípios e diretrizes de natureza social, ambiental e climática a ser observado pela instituição na condução dos seus negócios, das suas atividades e dos seus processos, bem como na sua relação com as partes interessadas. A presidente da ABDE destaca que as organizações aprimoraram suas políticas e aprovaram uma normativa que orienta as ações estratégicas para promoção dos investimentos sustentáveis. Além disso, estimula o gerenciamento dos riscos, para controle de sua exposição e a busca de oportunidades para fomentar produtos e linhas mais adequadas para mitigar os efeitos negativos da mudança climática.
Jeanette Lontra conta que as instituições estão ajustando os planos existentes, ampliando o foco sobre os riscos climáticos conforme a nova resolução.” Na verdade, as instituições já vinham cumprindo as regras socioambientais, mas agora estão aperfeiçoando”, explica. “Temos uma metodologia de análise de risco. Como havia uma metodologia de análise de risco de crédito, agora vamos ter também uma metodologia de análise de risco ambiental”. Ela reconhece que financiamentos para obras que marcam o retrocesso na área ambiental, como termelétricas a carvão – investimento criticado por ambientalistas e entidades do setor elétrico – , dificilmente deverão ser liberados nesse novo contexto.
A executiva destaca ainda que o Plano ABDE 2030, lançado no ano passado, tem como um dos focos a capacitação de gestores de bancos para qualificar o atendimento e análise de projetos ligados ao desenvolvimento sustentável, com preocupações da nova resolução do CMN. “Essa nova regra entrou em vigor no fim do ano passado e, agora, as entidades estão no processo de adaptação. Algumas entidades já tinham avanços nessa área”, afirma a presidente da ABDE.
Ela reforça que as entidades associadas da ABDE já trabalham com o tema da sustentabilidade. “E, agora, as instituições estão olhando principalmente para a questão ambiental. Mas, desde 2015, os grandes bancos já estavam inseridos em alguns protocolos internacionais em relação a essa questão. Agora, estão implementando suas políticas de responsabilidade socioambiental, incluindo a questão climática, por conta da nova resolução do Banco Central”, acrescenta.
Crescimento
O setor financeiro de fomento é fundamental para o desenvolvimento estratégico do país, ajudando nos investimentos de infraestrutura e na concretização de políticas públicas. De acordo com dados da ABDE, entre 2014 e 2022, houve um crescimento de 44% na carteira de ativos das entidades de fomento do SFN, totalizando R$ 5 trilhões em setembro de 2022. As regiões Centro-Oeste e Nordeste são as que têm a maior participação do crédito total de fomento, com 53%, 51% e 50%, respectivamente. Enquanto isso, Sudeste e Sul, 39% e 45%.
Jeanette Lontra destacou que o crédito agrário vem registrando expansão entre os bancos de fomento. O financiamento para o setor avançou passando de 78%, em 2021, para 81%, em 2022, considerando os valores disponibilizados pelo SNF. Os empréstimos para esse segmento incluem Plano Safra e demais linhas de crédito para a agricultura de cada instituição.
“O que temos percebido é o aumento de financiamento para irrigação dentro do agronegócio. Eu posso falar, por exemplo, do Rio Grande do Sul, e da seca que atinge a região. Está aumentando cada vez mais a procura por recursos para projetos de irrigação, armazenagem e também a produção de grãos no próprio país. Então, a gente também está financiando muita armazenagem e também as energias renováveis”, destacou Lontra, que também preside a Agência de Fomento do Rio Grande do Sul (Badesul).