Valor Econômico, v. 20, n. 4980, 14/04/2020. Especial, p. A14
Mobilização amplia oferta de produtos de combate à pandemia
Daniel Rittner
Em meio à pandemia de coronavírus, o Ministério da Economia reorganizou temporariamente em 11 forças-tarefas todas as áreas relacionadas ao setor produtivo para articular ações de combate à covid-19 e mitigar os impactos econômicos causados pela situação de crise sanitária.
A coordenação dos grupos está sob responsabilidade da Secretaria Especial de Produtividade, Emprego e Competitividade (Sepec). Uma das principais respostas obtidas com essa articulação, segundo o secretário especial Carlos Da Costa, foi o aumento da oferta de equipamentos e insumos “críticos” na luta contra a doença pela indústria nacional.
Ele cita a ampliação na capacidade produtiva de ventiladores pulmonares. Antes da crise, o país conseguia fabricar até 250 respiradores por semana. Com o avanço do coronavírus, esse número tornou-se irrisório para a necessidade do sistema de saúde. Após um processo de mobilização junto à indústria, com o apoio de associações empresariais, a capacidade já aumentou para cerca de 1,1 mil respiradores por semana.
“É o equipamento mais importante para salvar vidas nesta pandemia. Em três semanas, conseguimos aumentar a capacidade produtiva por quase cinco”, disse Da Costa ao Valor. Com isso, mais de 90% da necessidade de suprimento indicada como necessária pelo Ministério da Saúde (1,2 mil unidades por semana) estaria satisfeita, afirma o secretário especial. Caberá ao sistema de saúde - União, Estados e municípios - concretizar ou não as compras.
No enfrentamento do coronavírus, conforme estimativas da Sepec, os acordos já celebrados com a indústria nacional permitem expandir da seguinte forma a capacidade produtiva nos próximos três meses: 15 mil ventiladores pulmonares, 21 mil toneladas adicionais de álcool em gel e até 50 milhões de máscaras TNT (tecido não tecido), geralmente fabricadas com polipropileno.
“Temos muitas indústrias querendo ajudar, e isso é ótimo”, ressalta Da Costa. “Mas, em um momento como este, precisamos ter certeza absoluta do fornecimento. Diante da situação de emergência sanitária, não adianta nada se houver atraso de alguns dias, muito menos algumas semanas”.
Uma das forças-tarefas constituídas pelo Ministério da Economia trabalha exclusivamente na articulação dos chamados produtos “críticos”, tendo à frente o secretário de Desenvolvimento da Indústria, Comércio, Serviços e Inovação, Gustavo Ene. No caso das máscaras, esse grupo conseguiu viabilizar o aumento da produção com 14 empresas coordenadas pela Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit). Agora o foco são itens como aventais, toucas e as máscaras de outros tipos.
A articulação envolve várias frentes, começando por ações mais rápidas do que as habituais por órgãos reguladores - Anvisa, Inmetro, Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), Associação Brasileira
Normas Técnicas (ABNT). Dezenas de empresas e entidades setoriais - como Anfavea (automóveis), Abimaq (máquinas e equipamentos), Abiquim (químicos) - têm participado das conversas. A Accenture ofereceu apoio no processo de gestão.
Toda a cadeia produtiva foi mapeada para identificar gargalos e medidas necessárias, como disponibilidade de insumos, questões logísticas ou redução das tarifas de importação pela Câmara de Comércio Exterior (Camex).
A lista de companhias diretamente envolvidas pela Sepec no aumento da capacidade de atendimento nacional inclui pesos-pesados de vários segmentos: WEG, Flex, Suzano, Klabin, Bradesco, Itaú, Mercedes-Benz, General Motors, Fiat e Positivo.
Um exemplo da mobilização foi a busca por um agente espessante capaz de substituir o carbopol, matéria-prima responsável por transformar o álcool em gel, que tem a China como único fornecedor do mundo e está em falta no mercado internacional devido à elevada demanda. Uma unidade de pesquisa da multinacional americana Dow, no interior de São Paulo, desenvolveu rapidamente alternativa ao espessante em seus laboratórios.
Na semana passada, o próprio Da Costa foi à fábrica da empresa em Hortolândia para o piloto da linha de produção do novo insumo. A subsidiária da alemã Basf no Brasil deve seguir o mesmo movimento, segundo informou o secretário.
Outro dos 11 grupos coordenados pela Sepec se dedica exclusivamente à identificação e à aceleração de startups que possam oferecer soluções relacionadas à pandemia. Uma das esperanças é impulsionar empresas com pesquisas sobre testes rápidos para a covid-19. Empreendedores dedicados a tecnologias para monitoramento de indivíduos contaminados, telemedicina, soluções preditivas de surtos, agregação de dados de saúde humana também estão no radar.
“Se alguma coisa estiver dando certo, precisamos pegar essa startup na mão e dar escala imediata. Aqui no Brasil estamos sempre falando em milhões. Não há tempo a perder”, diz Da Costa, enfatizando a necessidade de conectá-las com investidores privados ou de providenciar financiamento.
As forças-tarefas do Ministério da Economia contam ainda com o auxílio de equipes dos secretários especiais: Salim Mattar (Desestatização, Desinvestimento e Mercados) e Paulo Uebel (Desburocratização, Governo e Gestão Digital).