Título: Abismo social determina o voto no Estado do Rio
Autor: Israel Tabak
Fonte: Jornal do Brasil, 12/12/2005, País, p. A2

O Rio de Janeiro é um estado partido pelo voto. A segunda rodada da Pesquisa JB-IBPS deixa muito claro que alguns pré-candidatos a presidente, mesmo a mais de 9 meses das eleições, já se identificam com um perfil característico de eleitorado, quando se levam em conta faixas de renda, regiões e bairros. Assim, por exemplo, o paulista Geraldo Alckmin, mesmo que ainda seja quase desconhecido de uma larga faixa do eleitorado, já aparece como vencedor nas faixas superiores de renda. Na Zona Sul fica em segundo lugar, logo atrás de Lula.

Se Alckmin pode ser considerado o ''candidato dos ricos'', Garotinho é o exemplo contrário: vence na Zona Oeste, mas na Zona Sul é o penúltimo colocado, atrás de Heloísa Helena.

Se for considerada apenas a renda, na faixa mais alta , acima de 20 salários, Geraldo Alckmin lidera com folga no estado: tem 36,4%, contra 18,2% de Lula e 9,1% de Serra. Na pesquisa não apareceu um voto sequer para Anthony Garotinho, nessa mesma faixa - os que gaham acima de 20 salários.

Quando se vai para o outro extremo, a situação se inverte. Entre os eleitores com renda menor que um salário mínimo Garotinho lidera a lista, com 17,2%, seguido por Lula, com 14,9%, Serra (11,5%) e Cesar Maia (11,5%).

Quando o foco são as zonas da capital, mais uma prova do voto segregado: na área mais pobre, a Zona Oeste, Garotinho e Lula estão empatados - com 16%, demonstrando mais uma vez que disputam a mesma faixa do eleitorado. São seguidos por Cesar Maia (11,9%) e Heloísa Helena, esta empatada com Alckmin (5,9%).

Os programas sociais de cunho assistencial, pontos fortes e de maior apelo eleitoral de Garotinho e Lula explicam a preferência do eleitorado da periferia e dos bairros mais pobres pelos dois candidatos.

Quando se vai para a Zona Sul, o panorama piora para Garotinho, mas não muda muito para Lula, que permanece na dianteira com 16,7% dos votos, seguido por Alckmin, (13.1%), Cesar Maia (11.9%), e José Serra. Heloísa vem a seguir, com 7.1%, à frente de Garotinho, com 4,8%).

Quando são analisados os dados gerais da capital, da Região Metropolitana e do interior, verificam-se algumas variações. Na capital, Lula vence Garotinho por pequena margem (16,5% a 12,6%). O ex-governador está em empate técnico com Cesar Maia (11.6%) e José Serra (10,6%) e é seguido por Geraldo Alckmin (6,3%) e Heloísa Helena (5,7%).

Na Região Metropolitana, Lula empata tecnicamente com Garotinho (19,2% e 18,1%), vindo a seguir Serra (10,5%), Cesar Maia (9,5%) e Heloísa Helena (4,9%) e Alckmin (4,6%).

No interior, a situação melhora para Garotinho, que está com 19,2% , mas ainda na faixa de empate técnico com Lula (16,8%) que, por sua vez, também empata tecnicamente com Serra (15,5%). Os demais candidatos aparecem bem atrás.

De acordo com o cientista Geraldo Tadeu Monteiro, presidente do IBPS (Instituto Brasileiro de Pesquisa Social) os dados da pesquisa ''desnudam a violênca e a desigualdade social do país'':

- As disparidades regionais e de renda refletem-se nitidamente nas opções políticas. As múltiplas segregações tendem a convergir, com a segregação de renda (ricos versus pobres) se convertendo na segregação espacial (bairros ricos versus bairros pobres) - avalia.

Geraldo Tadeu chama a atenção para o fato de que as preferências eleitorais por região do Estado apontam para relações claras ''entre certas candidaturas e certos grupos sociais''.

- Anthony Garotinho e o presidente Lula, com perfis populares mais próximos, por exemplo, disputam o mesmo eleitorado. Garotinho vence no interior, empata com o presidente na Região Metropolitana e perde na capital. Ambos disputam o eleitorado mais pobre das regiões periféricas e dos bairros mais carentes.

Quando se observam os números de rejeição dos candidatos, o presidente do IBPS ressalta que na capital, ''um maior nível de informação e de educação contribui para um ceticismo mais marcado em relação às opções políticas.

- A rejeição de Garotinho na capital (28,4%) é quase o dobro da registrada no interior do Estado, semelhante ao que ocorre com Cesar Maia. Sua rejeição no interior (7,3%) é metade do que se constata na capital (14,8%), o que parece ser função do desgaste provocado pelo exercício do governo e da pressão do eleitorado mais informado e reivindicativo - diz o especialista.

Registrada sob o número 49.919/2005, no Tribunal Regional Eleitoral, a pesquisa foi realizada entre os dias 18 e 24 de novembro e ouviu 1.100 pessoas, com uma margem de erro de 3% para mais ou para menos.