O Globo, n. 32482, 13/07/2022. Política, p. 11
Após reveses, Moro anuncia que disputará vaga no Senado
Bianca Gomes
O ex-juiz Sergio Moro (União Brasil) anunciou ontem que vai concorrer ao Senado pelo Paraná. A decisão foi comunicada pouco mais de um mês após o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) rejeitar a transferência do domicílio eleitoral de Moro para o estado, impossibilitando sua candidatura por lá. Antes dessa barreira, o ex-ministro já havia visto a intenção de concorrer à Presidência ser travada pelo União Brasil, partido ao qual se filiou após deixar o Podemos
O anúncio, ocorrido em um hotel em Curitiba, não teve a presença de Luciano Bivar, presidente nacional do União Brasil e pré-candidato do partido ao Palácio do Planalto. Em vídeo exibido na coletiva, Bivar disse que não estava no local “por coincidência de agenda” e desejou sucesso ao ex-ministro. Outro que não compareceu foi o vice-presidente da sigla, Antonio Rueda.
— Como nos tempos de juiz, escutei muito e tomei minha decisão: sou pré-candidato ao Senado pelo Paraná, a minha terra. Precisamos de renovação e mudança. Eu acredito que, a partir do Paraná, podemos criar novas leis, fazer cumprir aquilo que é justo na legislação atual e fiscalizar o Executivo com rigor — afirmou Moro, em vídeo exibido na coletiva de imprensa, em Curitiba.
Em discurso, o ex-ministro ainda disse que o país pode ter “anos difíceis” pela frente e que será preciso “lideranças que não se omitam e não sumam no cenário político”.
Negociação com o PSDB
Ainda falta definir em qual chapa o ex-ministro concorrerá. Inicialmente, havia uma expectativa de Moro ser candidato pela chapa do governador Ratinho Júnior (PSD), favorito nas pesquisas de intenção de voto. Mas a vaga também é cobiçada pelo senador Alvaro Dias (Podemos), antigo aliado do ex-juiz da Lava-Jato, e pelo PL, do presidente Jair Bolsonaro.
Recentemente, Moro abriu diálogo com o PSDB do Paraná, que tem como pré-candidato Cesar Silvestri Filho. Ex-prefeito de Guarapuava (PR), Silvestri Filho foi presidente estadual do Podemos e deixou o partido no início do ano após não conseguir apoio de seus correligionários para disputar o Palácio Iguaçu. Ele discordava da estratégia de não lançar um nome próprio no estado em troca do apoio de Ratinho Júnior a Alvaro Dias.
O tucano e Moro se reuniram na última segunda-feira para discutir a aliança entre os dois partidos. O assunto ainda será debatido entre os quadros regionais das legendas, mas o principal obstáculo está no PSDB, em que o presidente estadual é o ex-governador Beto Richa, réu na Operação Lava-Jato e desafeto de Moro. Os tucanos ainda planejam lançar outros nomes para a vaga do Senado, como o do deputado federal Rossoni.
O ex-juiz disse ontem que tem conversado com vários partidos e que a reunião foi um diálogo “absolutamente normal e corriqueiro”, no qual Beto Richa “sequer estava presente”. Questionado sobre a possibilidade de dividir a campanha com um ex-réu da Lava-Jato, Moro argumentou que é preciso conversar com todas as pessoas e ouvir suas ideias em relação ao país.
Com a pré-candidatura ao Senado pelo Paraná confirmada, Moro terá de enfrentar Alvaro Dias. O senador foi um dos responsáveis por levar o ex-juiz da Lava-Jato para a política. Questionado se conversou com Dias antes do anúncio de ontem, Moro disse que o senador é um político que ele respeita e que ambos correm em raias separadas.
— Vamos ver se, nas convenções, ele mesmo (Alvaro Dias) vai ser candidato ao Senado Federal ou se vamos ter uma outra situação. De todo modo, meu intuito é conduzir essa campanha no mais alto nível — afirmou.