Título: Jobim perde força no PMDB
Autor: Daniel Pereira
Fonte: Jornal do Brasil, 12/12/2005, País, p. A4

Uma eventual candidatura do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Nelson Jobim, à Presidência da República pelo PMDB - partido que enfrenta dificuldades de manter a candidatura própria, como antecipou o Jornal do Brasil ontem - já não encanta mais líderes da legenda. E já é considerada carta fora do baralho até mesmo por caciques do PSDB, que desponta como principal adversário do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na corrida ao Planalto em 2006.

De acordo com o líder do PMDB no Senado, Ney Suassuna (PB), o nome de Jobim perdeu força no partido devido às impopulares decisões do STF no processo de cassação do ex-deputado José Dirceu (PT-SP).

- O Jobim já não está com o mesmo pique - diz Suassuna.

O nome do presidente do Supremo ganhou força quando as denúncias de irregularidades envolvendo o governo e o PT atingiram a temperatura máxima. O pensamento no PMDB era que, em razão do escândalo do mensalão, os detentores de cargo eletivo teriam dificuldades para vencer a eleição. Comandante do Judiciário, Jobim preencheria a lacuna e teria credibilidade.

- Ele não está tão bem cotado como no auge da crise - afirma Suassuna.

Análise semelhante é feita por líderes do PSDB, ainda que de forma reservada. Eles avaliam que o ex-governador do Rio Anthony Garotinho deverá ser o candidato do PMDB, caso o partido consiga manter a candidatura própria, pois teria mais voto do que Jobim.

Pelo menos de público, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), mantém o presidente do STF no páreo. Ele afirma que Jobim apenas exerceu sua função na condução dos processos envolvendo Dirceu. Segundo Renan, o empenho para adiar as prévias do PMDB, visam a garantir a participação de Jobim e de governadores.

A manobra enfrenta resistência do presidente do partido, deputado Michel Temer (SP), e do grupo ligado ao ex-governador Anthony Garotinho, que seria beneficiado se a alteração não ocorrer.

O presidente do STF não é filiado a partido nem pode fazer política, prática que é vedada pela Lei Orgânica da Magistratura. Por isso, não comenta se concorrerá a cargo eletivo em 2006, mas conta com a permissão de juízes e presidentes de tribunais se filiarem até seis meses antes da eleição.

Nos bastidores, no entanto, Jobim movimenta-se com desenvoltura e tem participado de reuniões políticas. Sua principal bandeira é a aprovação de uma emenda constitucional para resolver o passivo em precatórios existente no país. Um tema espinhoso, mas de forte apelo popular. Se for aprovada, a medida levaria Estados e municípios a pagar uma dívida de R$ 62 bilhões em precatórios, cujos credores são empresários, trabalhadores, aposentados e pensionistas. Ou seja, daria a Jobim mais uma bandeira para sua candidatura.