Título: Documento lança suspeita sobre oposição
Autor: Daniel Pereira e Sérgio Prado
Fonte: Jornal do Brasil, 12/12/2005, País, p. A6

A CPI dos Correios tem em mãos uma bomba que ampliará a pressão política sobre as investigações, ao atrair para o centro da crise política partidos da oposição. Trata-se de uma pasta de documentos organizada por um dos técnicos do Banco Central deslocados para auxiliar a comissão. Os papéis informam que o economista Lúcio Bolonha Funaro sacou, em 2001, R$ 13 milhões em dinheiro vivo de uma conta do BCN em São Paulo. A suspeita do técnico do BC é de que parte dos recursos alimentou partidos políticos, entre os quais PSDB e o PFL.

O saque foi descoberto com a quebra do sigilo bancário de Funaro, um dos alvos da CPI dos Correios por ser fundador da Guaranhuns, empresa que teria sido usada por Marcos Valério Fernandes de Souza, um dos operadores do mensalão, para repassar R$ 6,5 milhões ao Partido Liberal (PL).

Procurado pelo Jornal do Brasil , o presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), afirmou desconhecer a existência do saque. Telefonou para o técnico do BC para se informar. E ouviu o funcionário confirmar o saque de R$ 13 milhões. O senador, contudo, foi prudente em relação ao destino do dinheiro. Declarou que a suspeita de repasse de valores a PSDB e PFL carece de comprovação. Além disso, afirmou que a CPI investigará se os recursos foram enviados para o exterior. O JB não conseguiu contatar Funaro. Integrantes da CPI lançam sobre ele várias suspeitas.

Funaro é considerado, por exemplo, operador de Ricardo Sérgio de Oliveira, ex-tesoureiro de campanhas tucanas. Em entrevista recente à Folha de S. Paulo, admitiu conhecer Ricardo Sérgio, mas apenas desde 2003, e acrescentou não ter negócio financeiro com o ex-caixa tucano. O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), afirmou não conhecer Funaro. O economista também foi incluído em relatório preliminar da CPI dos Correios sobre fundos de pensão.

No texto, o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA) cita Funaro entre os beneficiários das supostas perdas de mais de R$ 700 milhões registradas por 14 fundos de pensão entre 2000 e 2005. Funaro seria ligado à Laeta DTVM, responsável por transações que teriam causado prejuízos de R$ 55 milhões às fundações. A CPI dos Correios também suspeita que Funaro ainda seja o dono da Guaranhuns. A empresa, incluída na lista de beneficiários das perdas dos fundos, é dirigida por José Carlos Batista.

Batista seria um laranja de Funaro, conforme análise corrente entre parlamentares. Em resposta ao relatório preliminar do deputado ACM Neto, Funaro negou, semana passada, ser sócio da Laeta. Reconheceu, entretanto, operar por meio dela e de outras corretoras. Garantiu não ser dono nem sócio da Guaranhuns desde 2001, quando foram registrados os saques de R$ 13 milhões em dinheiro vivo na conta do BCN em São Paulo. E arrematou dizendo atuar dentro das regras do sistema financeiro.

Nesta semana, a CPI dos Correios tomará 13 depoimentos. Na terça-feira, prestarão esclarecimentos Ricardo Ramos Quirino e Maurício Pinho de Santana, sócios, respectivamente, das agências de publicidade Grottera e Link/Bagg. A Grottera atendeu a empresa Visanet, que teria repassado valores à DNA de Marcos Valério por determinação do Banco do Brasil. Segundo o relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), pelo menos R$ 10 milhões do total desembolsado pela Visanet alimentaram o caixa dois do PT.

A Link/Bagg teria sido favorecida por um aditamento em contrato com os Correios. Estão agendados ainda, entre outros, os depoimentos de José Roberto Salgado, vice-presidente do Banco Rural, e de Hamilton Mesquita do Prado, representante da Catalyst Re, multinacional do mercado de resseguros, cujas informações podem auxiliar o trabalho da sub-relatoria do IRB.