Título: Contra o atraso
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 12/12/2005, Opinião, p. A10

Com a experiência de quem comandou o Palácio do Planalto durante cinco anos, o senador José Sarney (PMDB-AP) expôs com clareza, no artigo de sexta-feira, no Jornal do Brasil, duas das principais carências de que o país padece. As reformas administrativa e política, sugeriu o ex-presidente, são urgências que poucos políticos desejam realmente superar. Acabam tratadas de maneira retórica e conduzidas ao esquecimento. Enquanto a reforma política costuma retornar à agenda pública em momentos agudos de crise (sobretudo quando os políticos são confrontados com a desconfiança popular), a reforma administrativa inclui-se na enorme gaveta de projetos fundamentais. Tentativas esparsas durante a década de 1990, infelizmente, não foram capazes de promover a necessária remodelação do Estado. O imperativo da mudança ainda se mantém. ''Vivemos na fase da pedra lascada'', escreveu Sarney. ''Modernizou-se tudo no Brasil, menos a máquina burocrática'', completou, sublinhando que os únicos avanços significativos foram na área da administração financeira.

Alerta emitido, o Congresso e o Executivo operariam verdadeiro milagre se conseguissem discutir e elaborar um programa de reforma administrativa do Estado brasileiro pelo menos para os próximos dez anos. Que o façam no primeiro semestre de 2006, antes que o calendário eleitoral turve qualquer debate mais robusto no Legislativo. Ou o Brasil prevê tal reforma, desenhando a máquina burocrática para funcionar segundo as exigências competitivas do século 21, ou o país será engolido pelo ímpeto reformista de nações como China e Índia.

A modernização da sua burocracia, a garantia de maior eficiência de gestão, a diminuição drástica dos chamados cargos de confiança e a instituição de órgãos e mecanismos que assegurem melhor prestação de serviços em todos os níveis estão entre as ações destinadas a reduzir o tamanho do Estado e limitar o peso do setor público sobre a conta paga pelos brasileiros. Completar a inacabada agenda de privatizações também é tarefa inadiável. Para tanto, insista-se, Brasília precisa vencer a inércia habitual dos anos eleitorais. Antes que o atraso administrativo vença o Brasil.