Título: Operadoras preferem empresas a pessoas físicas
Autor: Cristiane Crelier
Fonte: Jornal do Brasil, 12/12/2005, Economia & Negócios, p. A18

Os planos individuais de grandes operadoras do sistema de saúde suplementar estão sumindo do mercado. No ramo de seguradoras, as últimas empresas que ofereciam seguro de saúde para pessoas físicas - SulAmérica e Bradesco - deixaram de comercializar esse tipo de apólice para focar apenas em planos coletivos. Ainda restam as operadoras de saúde suplementar que vendem plano individual, mas, segundo especialistas, a tendência é de que essa modalidade seja extinta no país ou que se torne inviável financeiramente para a grande maioria dos brasileiros.

- Os aumentos são regulados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), mas o preço inicial é das operadoras e é fato que algumas empresas têm aplicado valores defensivos, na intenção de diminuir essas carteiras. Inclusive, sabemos que está havendo um desincentivo por parte dessas empresas aos corretores para que não vendam planos individuais - admite Alfredo Cardoso, diretor de Normas e Habilitação da ANS.

É o que sente na pele a digitadora Grayce Graciele de Assis. Ela buscava proteção da Bradesco Saúde, mas não pôde contratar o seguro via corretores.

- Insisti, fui até a empresa porque esse era meu plano de preferência, já que tinha boas referências a respeito, e me informaram que a Bradesco não está mais comercializando o plano individual no momento - conta.

A Bradesco Saúde admite que não oferece, no momento, seguros individuais de saúde, mas pretende preservar os direitos e garantias previstos nos contratos já pactuados. A SulAmérica também informou que interrompeu a comercialização de apólices de seguros saúde individuais, até que haja uma melhor definição no cenário regulatório. Mas acrescentou que a decisão se aplica apenas à aquisição de novos contratos, não havendo nenhuma mudança para os clientes que já são atendidos pela empresa.

Alfredo Cardoso diz que a ANS não pretende tomar nenhuma atitude para mudar o quadro. Isso porque, segundo ele, existem ainda no mercado ''muitas operadoras, inclusive de grande porte, que focam seus negócios em planos a pessoas físicas''. Na prática, no entanto, o segmento que mais ganha atenção das empresas que atuam no setor são os planos coletivos.

Especialistas ressaltam, porém, que a tendência é reduzir cada vez mais o número de empresas que atuam nesse nicho. E com o mercado se fechando e a concorrência diminuindo, os planos que ficarem poderão cobrar preços mais altos e reduzir a rede credenciada.

- Nos Estados Unidos, já está acontecendo isso. Uma pessoa que não é empregada de uma empresa já não tem condições de pagar um plano de saúde. Lá tem o agravante de que não existe sistema público de saúde, mas os impostos são bem mais baixos que no Brasil. Aqui no país, a saúde pública já não consegue atender à demanda e a carga fiscal é elevadíssima - critica José Luiz Toro da Silva, advogado e presidente do Instituto Brasileiro do Direito da Saúde Suplementar (IBDSS).

As empresas alegam que a interrupção na comercialização nada muda para quem já é associado do plano individual, isso porque, por lei, não é permitido o rompimento desses contratos por parte das operadoras. Mas, a longo prazo, vai ficar cada vez mais difícil lucrar com essas carteiras.

- A população vai envelhecendo e a sinistralidade aumentando; clientes que não usam ou pouco utilizam o plano vão sair e alguém vai ter que pagar essa conta deficitária que vai se formando - prevê Fabiano Monteiro, vice-presidente geral da Diagnósticos da América (DASA).

As operadoras de planos de saúde têm sua sugestão para que os planos individuais não sumam do mercado: a flexibilização das regras.

- Falta à ANS entender o mercado. Esse engessamento de ter que oferecer cobertura generalizada, 360 dias de internação com UTI para todo e qualquer segurado e ainda ter os preços controlados, é inviável. A solução que o mercado entende como lógica é que se possa oferecer produtos diferenciados, com diversos níveis de cobertura - conclui Fabiano Monteiro.