Correio Braziliense, n. 21884, 15/02/2023. Política, p. 4

CNJ afasta juíza que divulgou mentiras

Luana Patriolino


O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) decidiu, ontem, afastar a juíza Ludmila Lins Grilo, da Vara de Infância e Juventude da comarca de Unaí (MG) por uma série de comportamentos considerados reprováveis pelo colegiado. Entre os mais graves estão o excesso de faltas ao trabalho presencial, a disseminação de fake news bolsonaristas, a incitação de aglomeração durante a pandemia de covid-19 e ataques aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Outros 20 juízes serão julgados.

A decisão do CNJ foi unânime. Também foi determinada a abertura de dois processos administrativos contra Ludmila. A primeira investigação interna vai apurar se ela violou os deveres funcionais, pois se recusava a voltar ao trabalho presencial mesmo sem autorização para permanecer em home office. Uma inspeção apontou, ainda, faltas sistemáticas na comarca, baixa produtividade, morosidade e exercício paralelo de atividade empresarial. Ao todo, a auditoria encontrou 1.291 processos parados.

O corregedor nacional de Justiça, ministro Luis Felipe Salomão, votou pela abertura do processo e afastamento, para que Ludmila responda à investigação fora da função. Ele afirmou que a juíza demonstrou “total desleixo” com o trabalho e “imenso desprestígio” com a magistratura.

“A reclamada não cumpre seus deveres básicos, deixando de comparecer no fórum mesmo sem ter autorização para realizar teletrabalho, negligenciando a gestão do cartório e deixando fiscalizar os atos de seus subordinados. Réus presos sem sentença, réus soltos sem audiência, um desleixo absoluto com a atividade”, criticou.

Salomão foi acompanhado por todos os integrantes do CNJ. “A reclamada não cumpre seu dever de assiduidade nem o seu dever de despachar e proferir sentenças em nenhum dia da semana, realizando toda a sua atividade pelo meio virtual. Vários magistrados sofrem ameaça e nem por isso deixam de cumprir sua obrigação”, acrescentou Salomão.

“Estardalhaço”

Ludmila alegou, em sua defesa, que é vítima de um “assassinato de reputação” e de um “estardalhaço midiático”. Ela disse que deixou o expediente presencial e começou a fazer audiências a partir de cidades alternadas porque passou a sofrer ameaças por conta de sua atuação na magistratura.

A juíza afastada salientou, ao se justificar diante do CNJ, que teve que “prover a minha própria segurança, trabalhando integralmente por videoconferência”. Ludmila afirmou, ainda, que “tanto o CNJ, quanto o TJ-MG mostraram absoluto desprezo e, no mínimo, indiferença pela minha integridade física e pela minha vida”. “Lamentavelmente, o estado falhou e coube a mim mesma promover as medidas necessárias para promover adequadamente a minha segurança”, argumentou.

A juíza tem um histórico de polêmicas e reflete posições alinhadas com o bolsonarismo. Pelas redes sociais que mantém, referiu-se aos ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso como “perseguidores-gerais da República do Brasil, além de acusar os integrantes do STF de “ativismo judicial” e sugerir o impeachment deles.

O CNJ também começou a julgar o caso de um juiz do Mato Grosso que exigia de advogados poderes em procuração que não estão previstos na lei. Mas Salomão pediu vista e suspendeu a análise.