Título: Lula coloca panos quentes nas críticas feitas pelo PT
Autor: Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 13/12/2005, País, p. A2

Em conversas com auxiliares ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva diminuiu a importância das críticas à política econômica do governo feitas pela nova direção do PT, sábado, e descartou alterações profundas na política econômica no curto prazo, como a flexibilização das metas de superávit primário. O índice de 4,25% do Produto Interno Bruto (PIB) está mantido para 2006. Na avaliação do presidente Lula, a resolução aprovada pelo partido representa sinalização para as eleições de 2006 e não pode ser interpretada como afronta às políticas implementadas pelo governo. Para o presidente, o texto do fim de semana ¿é uma maneira de o PT não deixar o PSDB ficar com a bandeira da mudança nas eleições¿.

¿ O partido (PT) tem que ter suas bandeiras. Quer ser institucionalmente mais autônomo, o que não significa dizer que vai se descolar do presidente ¿ afirmou um ministro que conversou ontem com o presidente Lula.

Apesar de colocar panos quentes nos ataques do partido à condução da economia, o presidente admite entrar pessoalmente em campo a fim de promover uma repactuação interna ou ¿atenuar o tom das críticas¿, segundo definição de um ministro palaciano para quem o PT ¿pesou um pouco na mão¿. Há um temor no seio do governo de recrudescimento da crise interna às vésperas da eleição em 2006. O discurso pode ser afinado durante reunião da Executiva do PT marcada para o próximo dia 21.

O texto base da resolução foi apresentado pelo presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), em conjunto com correntes da esquerda petista e de setores do Campo Majoritário, que rachou ao perder a hegemonia na direção do partido durante as eleições internas de outubro.

Trecho da resolução sublinha como imprescindível a aceleração da execução orçamentária, ampliando os investimentos em infra-estrutura e nas políticas sociais. O caminho do crescimento permitiria, segundo o texto, reduzir a relação dívida e PIB, sem os sacrifícios resultantes das metas de superávit primário, que também devem ser reduzidas.

A elevação do salário mínimo em 2006 consumiu as conversas ontem no Planalto. Embora expressa a vontade política do presidente Lula em aumentar o valor para R$ 350, o tema ainda divide o governo. A área econômica, liderada pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci, ainda resiste sob o argumento de que, no Orçamento, ainda não foram encontrada as fontes necessárias para cobrir a despesa. Na proposta de Orçamento para 2006 enviada ao Congresso, o salário mínimo foi fixado em R$ 321. Para Palocci e o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, o mínimo pode chegar até a R$ 340, R$ 60 a menos do reivindicado pelas Centrais Sindicais.

Um reajuste do salário mínimo para R$ 350 representaria uma despesa a mais de R$ 4,6 bilhões. Com um mínimo de R$ 350, Lula pode assegurar um aumento real acima da inflação de cerca de 11%. Assim, durante o mandato, Lula poderá alcançar média de reajuste real de 5,4% por ano. Para os defensores da idéia no Planalto, o aumento pode ser contabilizado como um ¿feito¿ do governo num confronto aberto com o PSDB na campanha de reeleição do ano que vem.