Título: Verticalização na pauta da Câmara
Autor: Juliana Rocha
Fonte: Jornal do Brasil, 13/12/2005, País, p. A3

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) e o senador Jefferson Peres (PDT-AM) criticaram, ontem, a regra da verticalização - que obriga os partidos a seguirem nos estados a mesma coligação partidária da campanha presidencial. Hoje a Câmara deve votar a Emenda Constitucional que proíbe a norma. O texto estava na pauta na semana passada, mas não foi votado. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) também deverá analisar hoje uma consulta feita na Justiça eleitoral pelo fim da norma.

- A verticalização deve ser uma conseqüência natural do fortalecimento dos partidos. Ou seja, ela deve coroar o processo de reforma política e não ser o pressuposto, o primeiro passo, desta reforma. Se fizermos isso, vamos verticalizar o caos - afirmou o presidente do Senado.

Na opinião do senador Jefferson Peres, que é pré-candidato do PDT à Presidência, a verticalização é uma manobra dos grandes partidos como o PT e o PSDB para inviabilizar a candidatura própria das legendas menores.

- Os grandes partidos querem inviabilizar as outras candidaturas à Presidência. Em tese, a verticalização seria muito boa, mas o Brasil é uma federação, e as diferenças regionais têm que ser respeitadas - justificou o senador, acrescentando que o PDT não poderia lançar candidato para presidente se a norma for mantida.

Peres participou ontem de debate promovido pelo Instituto Atlântico, com a vereadora Aspásia Camargo (PV) e a cientista política Lúcia Hippólito, sobre o cenário político nacional e do Rio.

Os três palestrantes criticaram o populismo como instrumento para ganhar eleições. Lúcia Hippólito enquadrou o presidente Lula na lista de políticos populistas, ao citar o programa Bolsa-Família.

- Nas próximas eleições, Lula terá os 30% de votos de sempre, mais 11 milhões de votos assistidos pelo Bolsa-Família. Isto é suficiente para ganhar uma eleição. Pode-se até criticar quem vende votos, mas não sei se não venderia o meu se não tivesse o que comer - opinou a cientista política.

Já a vereadora do PV fez uma referência direta à política do casal Rosinha Matheus e Anthony Garotinho.

- A idéia de que vamos sobreviver com tudo a um real tem que ser enterrada - criticou Aspásia.

Na opinião do senador Peres, a prática clientelista de conquista de votos é burra, já que o eleitorado das classes mais baixas não tem o poder de convencer outros eleitores.

- Eu sempre me elegi com os votos da classe média. Eles são o meu exército invisível. Por ser formadora de opinião, cada eleitor da classe média é capaz de convencer outros 10 eleitores - destacou Peres.

Os três debatedores sugeriram uma reforma educacional e urbana como solução para combater a prática clientelista na política.

- Não tivemos urbanização e sim um processo de desruralização em que as pessoas foram empilhadas nas periferias e nas favelas. Com isso, políticos formaram um exército eleitoral de reserva - diagnosticou Lúcia Hippólito.