Valor Econômico, v. 20,
n. 4980, 14/04/2020. Finanças, p. C6
EESG, o novo ESG
Sonia Favaretto
Quando John Elkington cunhou o termo “Triple Botton Line”, no seu clássico
livro “Canibais com Garfo e Faca”, em 1994, trouxe para os profissionais de
sustentabilidade uma referência clara do trabalho a fazer. Vejam: “Triple
Bottom Line” é a expansão do modelo de negócios tradicional, que só considerava
fatores econômicos na avaliação de uma empresa, para um novo modelo, que passa
a considerar a performance ambiental e social da companhia, além da
financeira”.
E nisso viemos
trabalhando desde então (e mesmo antes, mas sem um termo que definisse o
movimento). Os tais fatores a que ele se refere, que deviam e devem ser
incorporados ao mainstream econômico, são as letras ESG (Environmental, Social
e Governance) ou, em português, ASG (Ambiental, Social e Governança). Essas
três letrinhas nunca foram tão famosas como neste início de ano. Na verdade, já
em agosto de 2019 elas ganharam mais holofote.
Foi quando os quase 200
CEOs que integram a “Business Roundtable”, associação americana sem fins
lucrativos criada em 1972, fizeram um posicionamento público anunciando uma
mudança radical de direção. Rompendo com a política mantida há mais de 20 anos,
que privilegiava a maximização do lucro dos acionistas acima de tudo,
informaram que o propósito de suas empresas será ampliado, favorecendo também
seus funcionários, clientes e as comunidades em que atuam.
Aí chegou 2020 com a
carta anual do CEO da BlackRock, Larry Fink, dizendo que esta, que é a maior
gestora de recursos do globo, com US$ 7 trilhões de ativos sob gestão, colocou
a sustentabilidade como centro da sua política de investimentos. Quem não sabia
o que era ESG saiu correndo para entender. E, então, veio Davos, pregando o
chamado “capitalismo de stakeholder”, termo mais falado nos corredores do Fórum
Econômico Mundial.
Não era para menos. Após
ir ganhando, ano a ano, mais posições no ranking de principais riscos apontados
pelo fórum no “Global Risks Report”, o E do ESG (fatores ambientais),
representou nada menos do que os cinco primeiros riscos em termos de probabilidade
de acontecer e três dos cinco em termos de impacto.
E aí não teve
concorrência. ESG se tornou termo falado em verso e prosa, em matérias de
jornal, programas de rádio, academia, escolas. Que bom! Mas, para realmente
transformarmos nosso jeito de fazer negócios, produzir, investir, consumir e
nos comportar, precisamos começar a falar de EESG - Economic, Environmental,
Social e Governance. Precisamos trazer o “E” do econômico para dentro, junto,
incorporado aos fatores ESG. Ou vice-versa, não importa. Assim, deixaremos de
correr talvez o pior risco para quem trabalha com sustentabilidade, que é ser
visto como alguém de um mundo paralelo. Algo como ouvir “enquanto ganhamos
dinheiro aqui (o ‘E’ do economic), vocês cuidam dessas questões aí (a agenda
ESG)”.
Trabalho há 33 anos com
comunicação. Acredito na força e influência das palavras e termos para definir
movimentos e tendências. Quando um(a) CEO ou um(a) chairman/chairwoman
começarem a usar a expressão EESG em vez de ESG, muitas mensagens estarão sendo
dadas ao mesmo tempo.
Algumas: de que não há
como separar o mundo; de que uma coisa sempre interfere na outra; de que
questões ambientais, sociais e de governança impactam para o bem e para o mal o
resultado financeiro; de que os investimentos financeiros e planejamento estratégico
devem levar em conta está agenda em sua definição. E por aí vai.
Há 15 anos, que foi
quando comecei a atuar com sustentabilidade, ou quando “Canibais com Garfo e
Faca” foi publicado, não tinha como ser diferente. Tínhamos que ganhar espaço e
explicar que existia um mundo além do financeiro, o mundo ESG. Mas já passamos
dessa fase. Inúmeros eventos mostraram que olhar o business só pela ótica
econômica é uma miopia que coloca a sobrevivência da empresa em cheque.
Chegamos, enfim, à fase do EESG. Agora, é acelerar o “como” implantar toda essa
agenda interligada. Até porque, mais do que nunca, estamos entendendo o quão
somos interligados (coronavírus que nos diga, mas isso é tema para um outro
artigo...).
Entendo que assumir a
agenda da sustentabilidade ocorre em uma empresa por três caminhos: amor
(quando a alta liderança entende e acredita nela), dor (quando há perda
financeira, de valor de mercado, reputação ou imagem por não se ter dado
atenção a ela) ou pela inteligência (quando o executivo tem a visão e entende
que este é um movimento inexorável e é para lá que o mundo vai).
Torço e trabalho para
que os caminhos que trilhemos nessa jornada por um mundo de fato
sustentavelmente interligado, o mundo do EESG, sejam sempre o do amor e da
inteligência.
Sonia Favaretto é
jornalista e trabalha há 15 anos com sustentabilidade. É presidente do conselho
consultivo da GRI Brasil, vice-presidente do conselho consultivo do CDP e
pioneira dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, SDG Pioneer, pelo Pacto
Global da ONU
E-mail: soniafavaretto@hotmail.com
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