Título: O Exu das artes cênicas
Autor: Alexandre Werneck
Fonte: Jornal do Brasil, 16/11/2004, Caderno B, p. B-1

Para Zé Celso Martinez Corrêa, o PT ainda tem muito a evoluir: - O partido tem uma formação estalinista e, ao mesmo tempo, católica, tradicional, moralista, que divide o bem do mal.

Somente essa evolução, segundo Zé Celso, poderia mudar o país:

- O Brasil tem que dar ênfase àquilo em que ele é mais forte, que é a cultura. Só com a cultura, mais do que com a educação, vamos superar as conseqüências da engrenagem do capital.

Ele não acha, entretanto, que essa necessidade seja deficiência só do PT. Os dois lados do pêndulo do poder seriam problemáticos:

- O PSDB virou um partido caipira, jeca. Eu até tenho uma boa impressão do Alckmin, que é um homem bonito. Mas ele é do interior, como eu. Sei como o interior de São Paulo é muito colonizado.

Para ele, o teatro tem um papel importante nessa revolução. Mas não qualquer teatro, claro. Ele se refere especificamente a seu modelo, grego, que mistura a arte com a vida e que escapa ao palco italiano tradicional...

- ...E que incorpora o candomblé. Recebi de Mãe Estela de Oxóssi (mãe-de-santo baiana) o título de Exu das Artes Cênicas, depois que ela, de quase 70 anos, assistiu de pé a quatro partes de Os sertões (peça baseada na obra de Euclides da Cunha, última a ser encenada pelo diretor no Rio).

- Essa foi a maior honraria que recebi na vida - completa, contando ainda que o secretário-executivo do MinC, Juca Ferreira, foi considerado filho de Oxóssi, o orixá caçador, pela mesma líder religiosa.

Com o diabo no corpo ou não, o teatrólogo elogia o cotidiano do ministério:

- Agrada-me muito a maneira como o Gil está conduzindo a cultura. Porque ele está dando ênfase à valorização da cultura como fator de poder, como riqueza do país.

O que mostra que, para Zé Celso, o poder é uma questão pessoal, depende de quem está no cargo:

- Aquele imbecil do Francisco Weffort (ministro da Cultura na gestão FHC) não fez nada pelo Oficina. E havia pessoas horríveis na Petrobras, que prejudicaram, por exemplo, o lançamento dos DVDs das nossas peças, como aquela horrorosa da Petro Ângela (Dulce Ângela Procópio, colsultora da presidência da Petrobras na gestão anterior, responsável pelos patrocínios culturais da empresa, que brigou com Zé Celso por conta do projeto dos DVDs). Só agora, dois anos depois, vamos conseguir lançar os DVDs.