Título: Dantas provocou prejuízo de R$ 361 milhões em telefonia
Autor: Mariana Santos
Fonte: Jornal do Brasil, 13/12/2005, País, p. A4

As relações do banqueiro Daniel Dantas, principal acionista do Grupo Opportunity, com a Brasil Telecom (BrT), que até setembro tinha como presidente a executiva Carla Cicco, serão investigadas na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Ontem, a nova diretoria da empresa de telefonia entregou à comissão fiscalizadora uma representação, na qual denuncia uma série de irregularidades praticadas nos últimos três anos envolvendo o que chama de ''abusos'' de Dantas na BrT. Os desmandos somam, nas contas da auditoria interna, R$ 361 milhões. Apenas uma das ingerências pode ter gerado um prejuízo de pelo menos R$ 280 milhões em custos de oportunidade - ou seja, se o dinheiro tivesse sido aplicado em outros investimentos.

O objetivo da ação, segundo os novos diretores da Brasil Telecom, é tentar ressarcir os cofres da empresa. A auditoria, conduzida por uma empresa terceirizada, prossegue sem data definida para acabar a fim de levantar mais informações sobre novos possíveis desfalques causados pelo dono do Opportunity. No entanto, o vice-presidente financeiro e diretor de relacionamento com investidores da BrT, Charles Rutz, garante que os prejuízos não abalam as finanças da telefonia, cujo faturamento anual é de R$ 10 bilhões.

- A Brasil Telecom suportou todo esse abuso sofrido por ela - afirmou Charles, durante entrevista coletiva na sede da empresa em Brasília, na tarde de ontem.

De acordo com a auditoria, Dantas comandou uma operação que envolveu um empréstimo de US$ 43 milhões com a Brasil Telecom, a fim de que o Opportunity pudesse comprar a Telemig e a Amazônia Celulares. Para tal, foi criado um fundo com os empréstimos, o TCF, que comprou notas promissórias da empresa HighLake, controlada pelo Opportunity. O levantamento aponta pelo menos três irregularidades: o investimento foi feito sem passar pela aprovação dos acionistas; as taxas de remuneração ficaram abaixo da remuneração de títulos internacionais; e a conversão do financiamento em ações, cláusula da compra das promissórias, ficaram a critério do devedor e favoreciam o Opportunity.

A nova diretoria também questiona a compra de três aviões - sendo dois por meio de leasing - pelo Consórcio VOA, constituído pela Brasil Telecom, Telemig, Amazônia Celular e Opportunity. Ao todo, foram gastos R$ 66 milhões com a operação. Apesar de deter 70% das ações do consórcio, a BrT nunca fez uso das aeronaves. O levantamento não encontrou registros de quem teria usufruído do avião.

Apesar de contar com apenas 3,3% de participação no consórcio, o Opportunity era líder do conglomerado. No mês passado, já após a troca de comando, a BrT entrou com uma ação judicial para ser ressarcido dos prejuízos. O advogado da telefônica, Francisco Costa e Silva, ressaltou que na semana passada o Opportunity foi destituído da liderança do consórcio. Em julho passado, os dois aviões adquiridos por meio de leasing foram devolvidos aos credores.

Está ainda sob suspeita a relação das agências de publicidade DNA e SMP&B, de Marcos Valério Fernandes de Souza, apontado como operador do mensalão. Entre 2003 e 2004, as duas prestaram serviços considerados pequenos frente ao volume de recursos aportados para pagá-los: ao todo, R$ 4,3 milhões. Apesar do vultoso montante, não houve contrato entre a BrT e as agências até meados de 2005, quando a Telecom rompeu contratos anteriores para incluir, oficialmente, a DNA e a SMP&B na lista de suas prestadoras de serviços.

As agências assinaram contratos no valor de R$ 25 milhões cada uma para atender à área de publicidade, que tinha virado um filão após o lançamento da BrT na área de telefonia móvel, em 2004. Foram suspensos os contratos então vigentes. Só na recisão foram gastos R$ 450 mil.

Sobre o envolvimento de Carla Cicco e de Daniel Dantas no caso Kroll, a BrT preferiu não se pronunciar.