Valor Econômico, v. 20,
n. 4981, 15/04/2020. Brasil, p. A5
Indicadores de confiança
têm queda recorde e vão cair mais
Alessandra Saraiva
Indicadores de confiança empresarial e do consumidor da Fundação Getulio Vargas
(FGV) sinalizam em abril quedas recordes, impactados pelo avanço da covid-19 no
país - mas o pior ainda pode estar por vir, alertou a coordenadora de Sondagens
da fundação, Viviane Seda. Ontem, a FGV anunciou prévias, do mês, do
Índice de Confiança Empresarial (ICE) e do Índice de Confiança do Consumidor
(ICC). Enquanto o ICE indicou queda de 27,6 pontos, para o patamar de 53,7
pontos, o ICC sinalizou retração de 22,1 pontos, para faixa de 58,1 ponto.
Tanto os recuos quanto
os patamares foram recordes de baixa nas séries históricas do indicador,
iniciadas respectivamente em 2005 e em 2001 - e devem ser mais negativas em
maio, afirmou Viviane. Para ela, a queda na confiança esse ano deve ser tão
profunda que pode reverberar na economia até 2021.
No caso do ICE, esse
indicador consolida indicadores de confiança de quatro setores cobertos por
sondagens da FGV: indústria, serviços, comércio, e construção. Na prévia de
abril, houve piora tanto no subíndice componente do ICE que retrata a situação
corrente dos negócios, que caiu 29,4 pontos, para 62,2 pontos; como no Índice
de
Expectativas, com recuo
de 39,7 pontos, para 48,2 pontos. Todos os 49 segmentos mostraram recuo de
confiança na prévia, com quedas expressivas em indústria (39 pontos) e serviços
(34,9 pontos).
Já na prévia do ICC,
houve queda de 10,8 pontos na prévia do sub-indicador do ICC que mede situação
atual, para 65,3 pontos, enquanto o que capta as perspectivas mostrou
redução de 29,1 pontos, para 54,8 pontos.
Para Viviane, ocorre no
momento uma crise na confiança, de maneira geral. “Não temos, na história, nada
com que comparar ao que estamos vivendo agora na economia”, justificou ela.
A pesquisadora comentou
que, em 2008, época de baixa na economia global causada pela crise do
“subprime”, o ICE caiu 13,8 pontos em novembro daquele ano - e o ICC, recuo de
10,3 pontos em outubro do mesmo ano. “No caso do ICE, no acumulado de setembro
a dezembro de 2008, houve queda de 34,5 pontos. Agora, esse mesmo indicador
sinaliza queda de 27,6 pontos - em um mês”, comentou.
Um dos aspectos que têm
contribuído para derrubar confiança de empresários e de consumidores, em abril,
é a pouca agilidade e abrangência insuficiente, por parte do governo, em prover
medidas no combate à crise.
“O governo oferece mais
crédito, mas há limite até quanto você pode pegar empréstimo”, observou
ela. “O auxílio emergencial de R$ 600 é pouco para garantir sustento básico, da
baixa renda, por três meses”, completou. “E o governo mencionou rodada de saque
do FGTS, mas apenas a partir de junho”, acrescentou.
Para a especialista, no
caso das ações governamentais, essas precisam ser não somente mais ágeis, como
também mais amplas e incluir transferência de recursos direta - e não somente
crédito. “Tinha que ter subsídio, investimento direto do governo para a sociedade.
Somente empresas sozinhas não conseguirão enfrentar essa crise”, alertou.
Entretanto, caso as
medidas não sejam diferentes do que já foi anunciado, Viviane teme que o fundo
do poço para os indicadores de confiança, tanto do empresariado quanto do
consumidor, ainda esteja por vir.
O fato de ninguém saber
quanto tempo a crise vai durar é outro fator que eleva incerteza, e
derruba confiança, acrescentou Viviane. Ela não descartou que o atual cenário
de confiança em baixa tenha reflexos na economia até 2021. “Temos projeção de PIB
bastante negativo neste ano, e não só no segundo trimestre.”