Valor Econômico, v. 20, n. 4981, 15/04/2020. Brasil, p. A5

IBC-Br sobe em fevereiro, mas não altera quadro de contração para o trimestre

Anaïs Fernandes
Estevão Taiar 


Último indicador para fevereiro, o índice do Banco Central que mede a atividade no país surpreendeu positivamente, mas sem chance de reverter a percepção de que o primeiro trimestre será de retração econômica. Soma-se a isso a prévia das sondagens de confiança, que parecem apontar para um cenário ainda mais negativo nos três meses seguintes.

O BC divulgou ontem que o Índice de Atividade Econômica do BC (IBC-Br) subiu 0,35% em fevereiro, ante o mês anterior. O resultado veio acima da mediana das estimativas colhidas pelo Valor Data, de 0,2%. Mensal, o indicador do BC permite acompanhamento mais frequente da evolução da atividade, enquanto o Produto Interno Bruto (PIB), calculado por trimestre pelo IBGE, descreve um quadro mais abrangente.

Ainda assim, citando o resultado de ontem, a equipe do J.P. Morgan afirmou em relatório que o desempenho do PIB brasileiro no primeiro trimestre deste ano pode não ter sido tão ruim quanto o previsto. O banco projeta queda anualizada, com ajuste sazonal, de 6% no período, mas o seu modelo que faz estimativas a partir das informações e dados mais recentes disponíveis indica que a retração pode ser de 1%.

Os economistas observam, no entanto, que a perspectiva menos ruim “parece ser mais um resultado do tempo, e não da magnitude do choque”. Os números de fevereiro ainda não refletem os impactos da pandemia do novo coronavírus na economia. O banco diz que “os dados de março serão fundamentais para calibrar essa estimativa”.

Daniel Xavier Francisco, economista-sênior do banco ABC Brasil, afirma que o IBC-Br de fevereiro foi “o último suspiro” da economia brasileira. Segundo ele, o desempenho do indicador veio em linha com o que sugeriam a indústria e o varejo ampliado (incluindo veículos e material de construção), que cresceram 0,5% e 0,7%, respectivamente, ante o mês anterior.

Mas esse é um “dado de retrovisor”, diz o economista, que espera queda entre 3% e 4% para o IBC-Br de março. “Os indicadores de alta frequência recuaram bastante. Vendas de carros, o consumo de energia tiveram quedas interanuais de 20%, 30%”, afirma.

Segundo Francisco, a série do IBC-Br e a projeção de março deixariam um “carregamento estatístico” negativo de 1,4% para o primeiro trimestre. Essa taxa sugere um PIB oficial em contração na casa de 1% no período, ante os três meses anteriores, diz o economista. Para o segundo trimestre, Francisco estima que a retração deve ficar na faixa de 6% a 7%. Antes, o economista trabalhava com números entre -2,5% e -3%, mas a perspectiva piorou depois que indicadores de confiança da Fundação Getulio Vargas apontaram um tombo em abril (leia a reportagem Indicadores de confiança têm queda recorde e vão cair mais).

O J.P. Morgan também cita o resultado extremamente negativo desses índices de confiança para afirmar que os sinais do segundo trimestre pioraram. Só a queda abrupta nas prévias das sondagens já levaram o “monitor do PIB” do banco a apontar retração anualizada de 25% no segundo trimestre, sendo que a projeção, com ajustes, é de -20%.

No acumulado de 12 meses, parâmetro mais estável, o IBC-Br de fevereiro subiu 0,66%. Na média móvel trimestral, usada para captar tendências, o indicador ficou estável, ante os três meses até janeiro. Em relatório, o Bradesco diz que o resultado do IBC-Br, somado a outros indicadores, “sugerem que a atividade econômica crescia em ritmo moderado antes da adoção de medidas de distanciamento social em março”.

Para Thiago Xavier, economista Tendências Consultoria Integrada, o indicador do BC foi, no entanto, mais um sinal de que a atividade perdia dinamismo no começo do ano. “No fundo, as revisões que analistas têm feito trazem também essa frustração, além de um ambiente político doméstico turvo”, afirma.

A falta de decisões coordenadas no combate à covid-19 pode gerar o que Xavier chama de retomada em “W”, ou seja, com Estados em momentos sanitários e econômicos distintos. Diante disso, o cenário pessimista da Tendências, de queda de 4,1% no PIB deste ano, tende a ganhar espaço, diz Xavier.