Título: Convocação terá que ser decidida por Renan e Aldo
Autor: Mariana Santos
Fonte: Jornal do Brasil, 14/12/2005, País, p. A2

Anúncio da medida, que foi dificultado por medo da repercussão, deve ser feito hoje

BRASÍLIA - Falhou a estratégia dos presidentes da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), de tentar jogar para os líderes dos partidos nas duas Casas a decisão sobre a convocação extraordinária, que vai gerar um gasto de R$ 15,2 milhões com salários extra a deputados e senadores. Sem consenso entre os parlamentares, os dois presidentes costuram entre si a melhor saída para minimizar os desgastes públicos e deixaram para hoje o anúncio da decisão. Tudo indica que o Congresso trabalhará durante o mês de janeiro para garantir a votação do Orçamento e o prosseguimento dos 13 processos de cassação no Conselho de Ética da Câmara. Capitaneados pelo PFL, integrantes da oposição querem evitar o esfriamento da crise. Já o governo joga com o esgotamento dos escândalos antes de alcançar o período de campanhas eleitorais. Ontem, líderes partidários das duas Casas reuniram-se com os presidentes no gabinete de Renan. Foram duas horas de discussões com posicionamentos bastante divergentes, sem que se chegasse a qualquer acordo. O deputado Raul Jungmann (PPS-PE) apresentou um projeto de decreto legislativo para revogar do texto do regimento interno a remuneração extra dos parlamentares com os trabalhos em janeiro - cada um recebe o equivalente a dois salários. Apesar dos discursos de apoio, a idéia não deve ganhar adesão suficiente para ser aprovada. O presidente do Conselho de Ética, Ricardo Izar (PTB-SP), apresentou aos colegas uma previsão dos trabalhos. Segundo ele, se os parlamentares interromperem as férias, oito processos estarão prontos para serem despachados do conselho até o fim de fevereiro. Com o recesso, a data ficaria esticada para março. Na Câmara ainda há muitas divergências, e as pressões sobre Aldo Rebelo são grandes. PT, PL e PTB - partidos envolvidos com o esquema do mensalão e que têm parlamentares na lista dos cassáveis no Conselho de Ética - fecharam questão, e defendem o recesso parlamentar. Outras duas legendas, PSOL e PSB, também apóiam a suspensão dos trabalhos. - Isso não vai atrapalhar os processos no conselho. Se não conseguimos trazer ninguém para depor no período normal, dirá em época de férias. De qualquer maneira, nós relatores nos comprometemos a entregar nossos relatórios até dia 15 de fevereiro - afirma o deputado Orlando Fantazzini (PSOL-SP) relator do processo contra Pedro Henry (PP-MT). O líder do PT, Henrique Fontana (RS), afirmou no fim da tarde que o partido defenderia a prorrogação dos trabalhos até o fim de dezembro, mas a dificuldade será obter a adesão da oposição, que se mantém dividida. Enquanto PSDB e PMDB estiveram à parte na discussão, o PFL foi enfático: pedirá o encerramento das atividades legislativas amanhã. A bancada pefelista também vai solicitar verificação de quorum em plenário caso o governo queria votar o orçamento. Na prática, inviabilizará a votação do projeto. - Há dois dias do fim do ano legislativo o Orçamento não tem um relatório preliminar pronto, nem relatório de previsão de receitas. A recém-criada comissão que estuda novos valores para o salário mínimo não apresentou trabalho - justificou o líder do PFL no Senado, José Agripino (RN). No Senado, o clima é de convocação. Ontem, durante almoço com os senadores Sérgio Guerra (PSDB-PE), Ney Suassuna (PMDB-PB) e José Agripino, o próprio Renan Calheiros não escondeu que é favorável à continuidade dos trabalhos. Até mesmo o líder do PT, senador Delcídio Amaral (MT), está do lado da convocação. - Um atraso no Conselho de Ética vai ficar ruim para o Congresso. É problema nosso, não do governo - disse o petista, presidente da CPI dos Correios, cujos trabalhos não serão influenciados com uma improvável suspensão.