Título: Ex-escravo deixa presidente constrangido
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 14/12/2005, País, p. A3

BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou ontem pelo constrangimento de ouvir duras críticas de um ex-trabalhador escravo em relação à qualidade dos assentamentos de trabalhadores rurais que participam do programa da reforma agrária. Desde que assumiu o governo, Lula tem falado que a infra-estrutura eficiente dos projetos é uma prioridade em relação à quantidade de famílias beneficiadas. - Lá (no assentamento) é muito difícil, presidente. Não tem água, não tem estrada e não tem colégio. Os meus filhos tem que morar na cidade. Presidente, olhe para o nosso lado, olhe para nossa gente - afirmou o trabalhador rural, cujo nome não foi divulgado por questão de segurança. Dois anos atrás, ele foi resgatado por fiscais do Ministério do Trabalho de uma fazenda no interior do Pará em condições análogas à escravidão e, em seguida, ganhou um lote de terra num assentamento em Araguaína (TO). Lula conversou com o trabalhador após a cerimônia e prometeu ajudá-lo. O evento foi o lançamento da campanha ''Erradicação do Trabalho Escravo'', em um salão no Palácio do Planalto. Um assessor da Presidência pediu o nome completo do trabalhador e o endereço do assentamento. O presidente não discursou nesta cerimônia, o que é incomum. Antes do evento, ao passar próximo a um grupo de jornalistas, Lula se antecipou às perguntas com uma brincadeira: ''Qual é a fofoca do dia?'' Em Mato Grosso, 200 sem-terra ligados à Federação da Agricultura Familiar (FAF) invadiu o prédio do Incra. Com dois fogareiros, um grupo de mulheres fez dentro do prédio arroz carreteiro para os demais invasores. Os funcionários continuaram trabalhando mesmo com as salas invadidas. A FAF divulgou uma pauta de reivindicação. Quer o assentamento de mil famílias ainda neste ano. Informa ter feito um acordo com o Incra e governo de Mato Grosso do Sul para que os acampados recebessem terra. Ainda no documento, a FAF listou propriedades. Por meio de sua assessoria, o Incra informou que a invasão foi um ato ''precipitado''. Segundo o órgão, a meta é assentar 9.100 famílias neste ano, incluindo todos os movimentos de sem-terra, mas estão sendo desapropriadas áreas para abrigar 10 mil. Até agora, o Incra conseguiu assentar, segundo sua assessoria, 2.900 famílias. No ano passado, a meta era dar terra a 7.200, mas apenas 3.700 foram contempladas.