Título: Acordo adia depoimento de Palocci na CPI dos Bingos
Autor: Daniel Pereira
Fonte: Jornal do Brasil, 14/12/2005, País, p. A4

Ministro manda carta se desculpando e ameaça de convocação não se concretiza

BRASÍLIA - O ministro Antonio Palocci venceu mais uma queda-de-braço com o presidente da CPI dos Bingos, Efraim Morais (PFL-PB). Costurado com o aval do titular da Fazenda, um acordo fechado entre líderes da oposição e o senador Tião Viana (PT-AC) evitou ontem a votação do requerimento para sua convocação. Os integrantes trocaram o requerimento de convocação por um novo convite para que ele deponha na primeira semana de trabalhos de uma possível convocação extraordinária. Caso não compareça, deverá ser convocado. Esta é a terceira vez em menos de um mês que o ministro é convidado a prestar esclarecimentos sobre supostas irregularidades destinadas a levantar recursos para o caixa dois do PT. Desde novembro, o presidente da CPI dos Bingos ameaçou colocar em votação, pelo menos duas vezes, o requerimento de convocação do ministro, porque Palocci se recusou a atender a convites para depor. A fim de evitar que Efraim Moraes ficasse desmoralizado após os ultimatos, os autores do acordo sugeriram a Palocci que lhe enviasse uma carta pedindo desculpas por não poder comparecer neste ano e mostrando-se disposto a aceitar o convite em 2006. Dito e feito. A mensagem chegou às mãos de Efraim por meio do senador Tião Viana. ¿ Vossa Excelência sai muito prestigiado com essa carta do senhor ministro. Se aceitar os termos da carta, dará prova de força e de grandeza ¿ afirmou o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), um dos que costuraram o acordo. Os demais integrantes da comissão discursaram no mesmo sentido. Entre eles, o líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN), que reconheceu a preocupação do partido com uma eventual perda de autoridade de Efraim. ¿ O ministro quer se transformar em expert para enganar o Congresso. Se depender dele, só duas datas servem: 31 de fevereiro e dia de São Nunca ¿ declarou em tom de crítica o senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT), que apesar do palavrório, ratificou o acordo. A decisão pelo novo convite foi unânime. Menos de cinco minutos depois de encerrada a sessão da CPI dos Bingos, o senador Tião Viana, que entregou a carta de Palocci a Efraim, recebeu um telefonema de agradecimento do ministro da Fazenda. ¿ O ministro disse que viria e quer vir. Ele só pedia para que o depoimento ocorresse no início do próximo ano, com ou sem convocação ¿ declarou Viana. Como na semana passada, o requerimento de convocação de Palocci não foi votado porque a oposição não tinha certeza de que derrotaria o governo. Um dos motivos para a dúvida é a divisão entre PSDB e PFL, e dentro dos próprios partidos, em relação ao comandante da política econômica. A cisão foi relatada, no final de novembro, pelo Jornal do Brasil, que antecipou que eventual depoimento de Palocci só seria realizado em 2006. O líder da minoria no Senado, José Jorge (PFL-PE), disse que o ministro terá de prestar esclarecimentos sobre pelo menos 13 denúncias ao comparecer à CPI dos Bingos. Entre elas, a de que recebeu propina mensal de R$ 50 mil da empresa Leão Leão quando era prefeito de Ribeirão Preto e de sua suposta participação do envio de dólares cubanos para a campanha de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República em 2002.