O Globo, n. 32485, 16/07/2022. Política, p. 5

Braga Netto busca base no Senado para alinhar estratégia de campanha

Jussara Soares
Camila Zarur


Prestes a ser confirmado como vice na chapa de reeleição de Jair Bolsonaro (PL), o ex-ministro da Defesa general Walter Braga Netto (PL) se reuniu na quinta-feira com senadores aliados ao governo no Congresso. O presidente quer que o militar se aproxime de parlamentares e atue na interlocução com os estados, compartilhando as estratégias de campanha do titular do Palácio do Planalto. Na conversa, o general pediu aos congressistas que procurassem prefeitos de suas bases eleitorais para reforçar, principalmente, como o governo atuou para socorrer financeiramente os municípios durante a pandemia da Covid-19. A ideia é que esses prefeitos ajudem a ecoar o discurso de Bolsonaro.

Integrante da ala militar do Palácio do Planalto durante a maior parte do governo Bolsonaro, e não era o nome preferido dos aliados políticos do presidente para o cargo de vice. Parlamentares do Centrão e o núcleo político da campanha preferia a ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina.

Escohido por Bolsonaro, porém, o general se aproxima dos aliados político. Na reunião com os senadores, o ex-ministro ainda pediu empenho para divulgar ações do governo voltadas para mulheres. O eleitorado feminino tem sido o foco principal da campanha após pesquisas de intenção de voto mostrarem maior rejeição a Bolsonaro neste grupo. De acordo com a última pesquisa do Datafolha, realizada no fim de junho, 61% das mulheres dizem que não votariam em Bolsonaro.

Participaram do almoço os senadores Wellington Fagundes (PL-MT); Carlos Portinho (PL-RJ), líder do governo na Casa; Eduardo Gomes (MDB-TO), líder do governo no Congresso; e Carlos Viana (PL-MG). O convite para o encontro foi feito por Fagundes, líder do bloco parlamentar Vanguarda e candidato à reeleição no Mato Grosso.

— Esse diálogo é muito importante porque permite que possamos levar o sentimento das nossas bases para o êxito da campanha à reeleição do presidente Bolsonaro — disse Fagundes.

Outro ponto tratado pelo ministro foi a reforma agrária. Aos parlamentares, Braga Netto disse que o Movimento Sem Terra (MST) perdeu força por causa da  atuação do governo Bolsonaro, que zerou as desapropriações de terra e, em contrapartida, passou a regularizar títulos de propriedades a assentados.

Braga Netto, segundo relatos, usou a reunião para se apresentar, contou sua trajetória no Exército e se colocou à disposição, mas evitou falar como vice de Bolsonaro na campanha de reeleição.

Como mostrou O GLOBO, o ex-ministro da Defesa e da Casa Civil se tornou um subcoordenador da campanha após os envolvidos no projeto de reeleição do presidente diagnosticarem que o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) estava sobrecarregado.

Aos senadores, Braga Netto disse estar elaborando diretrizes para um eventual segundo mandato e que o programa já está adiantado.

Convenção em São Paulo 

A confirmação do nome do Braga Netto como vice de Bolsonaro será feita na convenção partidária do PL, no próximo dia 22, em São Paulo, em local ainda a ser definido. O evento seria realizado em Brasília, mas os estrategistas da campanha optaram pela mudança para reforçar a presença do presidente em São Paulo, num evento cuja expectativa é reunir milhares de apoiadores, segundo informou a colunista do GLOBO Malu Gaspar.

O estado é um dos quatro palcos prioritários da ofensiva bolsonarista para tentar decolar nas pesquisas este mês. Os outros são o Rio de Janeiro, Minas Gerais e a Bahia.