Valor Econômico, v. 20, n. 4981, 15/04/2020. Empresas, p. B2

Para presidente da Eletrobras não há porquê alterar plano de privatização

Rodrigo Polito


O presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Junior, afirmou ontem não ver motivos para uma eventual mudança no modelo de privatização da companhia. O plano, de acordo com o projeto de lei em trâmite na Câmara dos Deputados, prevê uma operação de capitalização da empresa, por meio de uma oferta subsequente de ações, em que a União teria sua participação reduzida para menos de 50% e o controle da companhia seria pulverizado.

“Não vejo nenhuma razão para mudar o projeto. Acho que esse é o melhor projeto mesmo”, disse o executivo, em transmissão na internet promovida pelo Grupo de Líderes Empresariais (Lide) do Rio. Com esse modelo, lembrou Ferreira, a empresa terá condições de investir quatro vezes mais por ano. De acordo com o plano de negócios 2020-2024 da empresa, a previsão de investimentos para 2020 é de R$ 5,3 bilhões.

Na última semana, a economista, ex-diretora de desestatização do BNDES e ex-integrante do conselho de administração da Eletrobras, Elena Landau, defendeu que o projeto de privatização da companhia e os de todas as outras estatais sejam coordenados pela secretaria do Tesouro Nacional. Ela acrescentou que, devido ao impacto para as contas públicas da crise provocada pela pandemia do novo coronavírus, se o governo quiser aumentar a arrecadação para com a desestatização da elétrica, o modelo terá que ser modificado, vendendo diretamente o controle das principais subsidiárias do grupo.

Segundo Ferreira, devido à pandemia, a previsão de aprovação do projeto de lei no Congresso passou do primeiro semestre para o fim deste ano. O executivo disse reconhecer haver outras prioridades para o governo e o legislativo nesse momento.

Com relação ao mercado de energia, o executivo disse que a Eletrobras recebeu notificações de força maior por algumas distribuidoras, mas afirmou que as concessionárias estão honrando com os pagamentos. “Até o momento não registramos nenhuma inadimplência em nossos contratos”, afirmou o executivo.

Sobre o mercado livre, a estatal não recebeu nenhuma notificação de força maior, porém alguns consumidores livres já enviaram solicitações para discutir bilateralmente ajustes nos contratos de fornecimento de energia. “Não tivemos [notificação de] força maior por nenhum deles [consumidores livres], mas tivemos uma demanda para negociar”, completou Ferreira.